Ser velho é uma chatice!!!

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Isto de se chegar a velho é uma chatice.

Nos momentos de solidão começamos a recordar episódios vividos há anos, não muitos mas que parecem séculos, e não raras vezes somos obrigados a duvidar da veracidade de casos que tínhamos como garantidos.

Relembramos textos escritos com uma certeza inabalável, e que se vieram a provar completamente errados, conversas terminadas com poderosos adjectivos, em frases grandiloquentes que, mais tarde, tivemos de engolir, sorrisos de superioridade que, depois, se transformaram em esgares envergonhados.

Com a idade percebemos que a única certeza absoluta que podemos ter é que não há certezas absolutas.

A opinião sobre aqueles que nos rodeiam muda, também, com frequência e espanto, com os anos.

São inúmeras as vezes em que ficamos surpreendidos com atitudes estúpidas de quem pensávamos superiormente inteligentes?

O contrário também acontece, embora com menos frequência.

E o assombroso que é podermos, ao longo dos anos, testemunhar uma decisão corajosa por parte de quem todos julgavam cobarde?

Algo só comparável ao desalento que nos invade quando presenciamos situações opostas: um “valentão” a fugir “heroicamente”!

Saber, ao fim de anos, que as nossas mais profundas convicções acabam por se provarem disparatadas, permite-nos, finalmente, perceber o quão ignorantes fomos ao longo da vida.

Um dos erros mais frequentes, e que mais nos custa a admitir, é o que resulta do nosso julgamento em relação à capacidade dos nossos dirigentes.

E, em especial, dos políticos.

Há um consenso generalizado em considerar todos como impreparados, pouco inteligentes e nada sérios.

Por muitos Cursos Superiores, Mestrados, Doutoramentos que tenham, há sempre quem consiga descobrir falhanços que os deveriam ter levado a reprovar no exame do quinto ano de escolaridade.

Ainda que tenham escrito teses, estudos, ensaios sobre a matéria que os levou ao Poder há sempre críticos de decisões complexas unicamente com base “no senso comum”.

Tenho pensado nisso com vergonha de alguns textos que escrevi, ao longo da vida, em diversos jornais e revistas.

A seguir ao 25 de Abril as exigências não tinham limites.

Lembro, com um sorriso, a frase dos “anarquistas”:

– “Sejamos razoáveis. Limitemo-nos a exigir o impossível!”

Os jornalistas, os comentadores e os analistas eram, com raras excepções (onde eu não me incluiria), inflexíveis nas críticas.

Nenhum político merecia, por uma ou outra razão, o lugar que ocupava.

Os discursos eram fracos, as decisões erradas ou insuficientes, as prioridades equivocadas e incorrectas.

Eram fracos os líderes, tínhamos a certeza.

E escrevíamos isso à saciedade na esperança de que fossem substituídos por génios que sabíamos existir mas sem saber onde.

Quase meio século depois deu-me para, comparando, tentar perceber a evolução que, obrigatoriamente, teria acontecido.

Analisei, Partido a Partido.

O resultado foi… preocupante.

Analisemos, sem sermos exaustivos, os políticos de então:

No Partido Socialista havia, entre outros, Mário Soares, Salgado Zenha, António Arnaud, Miller Guerra, Almeida Santos e Jorge Sampaio.

No Partido Popular Democrático destacavam-se Francisco Sá Carneiro, Magalhães Mota e Francisco Pinto Balsemão.

O Centro Democrático Social contava com Freitas do Amaral, Amaro da Costa, Nuno Abecassis, Vítor Sá Machado e João Morais Leitão.

No Partido Comunista sobressaíam Álvaro Cunhal, Dias Lourenço e Carlos Brito.

No Partido Popular Monárquico aparecia Gonçalo Ribeiro Teles.

Não têm conto as críticas negativas, arrasadoras, que punham em causa as capacidades de todos e cada um deles.

Hoje temos:

No Partido Socialista, António Costa, José Luís Carneiro, Ana Catarina Mendes, Fernando Medina e Pedro Nuno Santos.

No Partido Social Democrata, Rui Rio, José Silvano, José Manuel Bolieiro e Carlos Peixoto.

No Centro Democrático Social, Francisco Rodrigues dos Santos (Chicão), Telmo Correia, João Pinho de Almeida e Cecília Meireles.

O Partido Popular Monárquico mudou de Gonçalo. Tem agora o fadista (que Deus me perdoe e os amantes do fado, também) Gonçalo da Câmara Pereira.

E eu sem poder penitenciar-me junto daqueles que tão veementemente critiquei nos anos 70 e 80 do século passado.

Ser velho, repito, é uma chatice.

Mas dá-nos, também, a hipótese de aconselhar os mais novos.

Por isso, é com bonomia que digo aos meus filhos, quando eles se exasperam ao ouvir os actuais políticos, ao tomarem conhecimento de algumas medidas, ao lerem textos por eles escritos ou ao tentarem entender leis que promulgam:

– “Não critiquem. Verão que, com estas fornadas de jotinhas dos partidos, quando chegarem perto da minha idade terão de concluir que os actuais políticos não são tão maus como parecem neste momento.”

Como dizia a minha Avó (e os velhos sabem do que falam):

– “Atrás de mim virá quem de mim bom fará.”

1 COMENTÁRIO

  1. Esses velhos eram bons, na trafulhice. Uns, talvez fossem realmente bons, para a classe deles, mas não foram longe. Dos outros, um, queria vender-nos à URSS; outro, vendeu-nos à UE e aos EUA…

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