«A Minha Cidade» é o título da exposição de 28 aguarelas que Paulo Ossião trouxe à galeria do Casino Estoril. Patente até 9 de Junho.
Senta-se o pintor, em mui religiosa contemplação, diante da majestade da Sé Catedral ou do Panteão, ambos a dominarem as casas de linhas sempre mui rigorosamente direitas. Mas, fundamentalmente, encantava-o o azul do céu. As casas ficavam em baixo. E mesmo quando, ao longe, via a Torre de Belém, o Tejo azul ficava em primeiro plano e a torre recortava-se, além, perdida no horizonte.

Quando nos aproximamos de Lisboa vindos do Alentejo é que descobrimos que, afinal, agora já não é tão azul o céu de Lisboa como Paulo Ossião o pinta. O azul do Alentejo, o azul do céu do Alentejo é muito mais brilhante, muito mais emocionante e, em Lisboa, começa a estar já mesclado de cinza.

Sabemos quanto o turista se deixa seduzir por essa claridade ímpar que a cidade ainda consegue ter; sabemos como a rigorosa quadrícula imposta à Baixa em tempo do senhor Marquês de Pombal influi na imagem da nossa Lisboa.

Encanta, de facto, a imponência da Sé; a altivez do Panteão, o verde vigilante do castelo. Mas – perdoa-me, Paulo! – encantou-me agora, nesta exposição, aquele quadro que o Pedro estrategicamente colocou em recatado relevo: o da revelação de que, em cada apartamento desse prédio de vísceras à mostra, havia pessoas a falar umas com as outras. Sem telemóveis!!!

Não, não foi durante o apagão. Foi antes! Porque já antes se sentia a necessidade de haver um apagão para que as pessoas voltassem a sorrir umas para as outras sem ser através de emojis; voltassem a falar, a abraçar-se e a beijar-se, sem ser através de emoticons!… Abençoado Paulo!

Gostei muito deste texto, como gosto da pintura de Paulo Ossião, embora nunca lho tivesse dito no FB porque está, pelo menos estava, na minha lista.
É verdade que um espaço virtual não será o mais indicado para transmitir o retorno da cada apreciação, mas é bem útil para ajudar a publicitar as obras de artistas e escritores com pouco espírito mercantil.
O quadro em “destaque” parece uma banda desenhada em que tem de haver coerência interna. Tanta como o facto de, em cada lar, não ser costume as pessoas comunicarem por telemóvel da sala para a cozinha.
Quero dizer: de facto é possível os indivíduos que não estão muito afastados, arranjarem forma de revelar o retorno de viva voz (e lá chegaremos um dia…) mas não podemos negar as vantagens do telemóvel em emergências inesperadas.
O melhor é ir ver a exposição e saber o que propõe o artista.
Para o autor do texto, um grande abraço.