O TESTE DO LÁPIS

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Na magnífica exposição de Zanele Muholi na Tate, em Londres, este autoretrato que remete para a infame prática do “teste do lápis” utilizada durante o apartheid na África do Sul para determinar a “classificação racial” de cada pessoa. Este teste exemplifica a brutalidade, a arbitrariedade e o profundo ridículo de um sistema racista que dividia seres humanos em categorias raciais.

O “teste do lápis” era usado pelas autoridades em caso de dúvida sobre se uma pessoa deveria ser classificada como “branca” ou como “negra”. Por vezes em audiência pública, para uma humilhação e desumanização mais eficaz, um lápis era enfiado no cabelo: se deslizasse por entre os fios de cabelo e caisse no chão a pessoa era classificada como “branca”, se o lápis ficasse preso no cabelo era classificada como “negra” ou “mestiça”. Com as respectivas consequências que daí adviriam no regime segregacionista e racista que só terminou em 1994. Ontem, portanto.

Ao mesmo tempo que caminhava na exposição da Zanele, ia lendo as notícias e reações à operação policial no Martim Moniz onde dezenas de pessoas imigrantes foram perfilhadas, encostadas à parede, revistadas, submetidas a humilhação pública sem qualquer suspeita concreta. Também li que foi aprovada no Parlamento (o que dirá o Palácio Ratton?) a restrição do acesso ao SNS a cidadãos estrangeiros não regularizados.

Tempos estranhos estes… Há práticas de exclusão do nosso tempo presente que mais parecem um lápis invisível a desenhar fronteiras entre os que merecem direitos e os que podem ser descartados, excluídos, indignamente tratados. Um teste de lápis invisível a testar-nos…a todos.

[Li críticas a uma comparação feita entre uma imagem da operação no Martim Moniz e outra de judeus na Alemanha nazi. Percebo as críticas mas que se lembrem que o Holocausto não começou em Auschwitz nem de imediato com as câmaras de gás. Começou com o discurso de ódio, com as inscrições racistas nas montras das lojas dos judeus, com as pilhagens paramilitares e as detenções policiais arbitrárias, com a desumanização de seres humanos, com a classificação de seres humanos como inferiores e menos dignos, pela sua aparência, pertença, afiliação, etnia, religião…]

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