UMA ESPÉCIE DE ANDRÉ

Pablo Marçal é um político da extrema-direita brasileira, um parceiro de Bolsonaro que procura cada vez mais protagonismo de modo a ocupar o “lugar do morto”, uma vez que Bolsonaro está em queda livre na popularidade.

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Uma das histórias mais divulgadas por Pablo Marçal é o seu projeto de construir “300 casas” na comunidade rural de Camizungo, em Angola. O político brasileiro lançou campanhas de angariação de fundos para esse projeto e, segundo publicam vários media brasileiros, terá juntado cerca de 4 milhões e meio de reais (cerca de 750 mil euros) em doações e leilões na net.

Camizungo fica perto de Luanda, não é um sítio remoto de difícil acesso. Os jornalistas Paulo Motoryn e Cláudio Silva, do jornal online Intercept Brasil, foram a Angola e procuraram as 300 casas prometidas. Encontraram 30.

“O cenário é de falta de saneamento básico, dificuldade de acesso à água e insegurança alimentar”, escrevem na reportagem publicada. 

Para onde foi o dinheiro, ninguém sabe responder. Pablo Marçal saberá, mas não quis responder. Mas as campanhas de angariação continuam.

O que se sabe é que o dinheiro já angariado por Marçal não foi usado no projeto. As casas não foram construídas. Mas ele usa a promessa falhada como se fosse coisa cumprida e está a utilizar o projeto para promover a sua candidatura à prefeitura de São Paulo.

cartaz de campanha de Pablo Marçal

Há uns meses, numa entrevista a um podcast afirmou: “Estamos indo para a África agora. Lá, nós estamos terminando de construir uma cidade”.

Este projeto e as campanhas de angariação de fundos envolvem várias ONGs e associações evangélicas de que este político é próximo. Tudo indica que a maior parte do dinheiro angariado foi canalizado para essas organizações.

Em Camizungo, os jornalistas brasileiros perceberam que a promessa de construção de casas envolve uma ampla ação de evangelização e que as poucas casas já construídas foram entregues a quem participa nas ações dessa igreja e não a quem mais precisa de uma habitação.

Camizungo

O pior é que a promessa de construção de casas atraiu dezenas de outras famílias para Camizungo, acreditando que poderiam beneficiar de moradias novas. Mas, com apenas 30 casas construídas e nenhuma perspectiva clara de novas construções, a chegada dessas famílias tem sobrecarregado os escassos recursos do local, o que criou conflitos entre a população.

Angola é um tema que sempre atraiu as atenções da população brasileira, a que não será estranho o facto de 30% da atual população brasileira ter origens angolanas, descendendo dos escravos levados pelos colonizadores portugueses. O país é rico, mas o fracasso da governação pós-independência proporciona chão fértil para este tipo de intervenção de tipos sem escrúpulos que, à pala da cooperação para o desenvolvimento, metem dinheiro ao bolso.

A campanha deste candidato é feita quase só nas redes sociais, onde Marçal tem utilizado um esquema de pagar a promoção dos conteúdos que publica, de modo a conseguir alcançar um imenso universo de potenciais votantes que, de poutro modo, nunca conseguiria alcançar. Talvez o dinheiro angariado para Angola esteja a ser utilizado nesse esquema que os tribunais brasileiros já proibiram, decretando a impossibilidade dele usar promoções pagas nas redes sociais.

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