Está prestes a encerrar-se, em Viseu, a celebrada Feira de S. Mateus que em Viseu nasceu há mais de 600 anos, criada por Carta de D. João I em sua visita à cidade onde lhe estabelece lugar dentro da misteriosa Cava de Viriato de onde transitará, no reinado de D. Manuel I, para o Campo da Ribeira onde ainda se mantém, ora com a duração de um mês, como as primeiras. Feira Franca, chamada ainda pelo povo, que agora franca já não é, e ali vinha o povo, como vem ainda, por alongados caminhos para comprar e vender. E ali de tudo se achava, de quanto havia debaixo da “rosa do Sol”. De quase tudo.
Que, uma apreciada guloseima, as ditas “farturas à moda de Lisboa”, hoje ainda apetecidas por sôfrega multidão que enfileira frente ao gigantismo das tendas que as fabricam, essas ali se provaram, pela primeira vez, no ano de 1913 quando um empresário local de seu nome Luciano Dias de Sousa, um “homem das Arábias” como eu lhe chamei, pela primeira vez as serviu com a designação de “doce da moda” num esquisito Salão decorado ao jeito árabe junto ao Pavilhão de Cinema onde os feirantes riam a bandeiras despregadas com as fitas, como se contava. “Farturas à moda de Lisboa”, de onde a moda trouxera, que em Lisboa tiveram berço, “farturas de Lisboa”, reinvenção curiosa a partir dos “churros” espanhóis que os galegos fritavam nas feiras com receita não revelada a quem a requeria. Até que um dia um tal Manuel Jorge, natural de Candosa, Tábua, migrante em Lisboa, intenta negócio semelhante mas da receita ninguém lhe revela o segredo.
Mas teimando em seu intuito, experienciando, com sua mulher, veio à posse do segredo que os galegos guardavam e ao ver a massa solta e dourada na sertã, terá gritado, ao jeito de Arquimedes: – Eureka!… Eureka!… Era em Lisboa no ano de 1894.
Em breve nas feiras de Alcântara, de Belém, de Santos e nas feiras das terras saloias se vendia a guloseima encantada cheirando a açúcar e canela. Que sem nome ainda se vendia.
Até que um dia um divertido forasteiro se aproxima da tendinha, pede um desses talhes da massa que se apresenta, dourada, no balcão e com ela já na mão quer saber do preço.
– Dez réis, requer o vendedor!…
Mas não acha graça o comprador olhando, com desdém, o pouco franco talhe do bocado.
Deu-se conta o vendedor que ripostou: – Por dez réis é uma fartura!…
Verdade ou lenda, não sei. Mas achou graça o Zé Povinho que esperava, em fila, a sua vez. E assim se achou nome para a guloseima popular!…