No “African Economic Outlook 2024”, o relatório anual do Banco Africano para o Desenvolvimento (BAD), está assumido que “a transformação estrutural em África tem sido lenta e desigual” e que, de um modo geral, as economias africanas precisam de “reformas corajosas”.
Trata-se de um relatório técnico, onde se fala de crescimento, PIB, rendimento per capita, desenvolvimento económico, etc. Todos os países africanos são analisados. No caso dos que pertencem à “geografia da língua portuguesa”, há pormenores interessantes.

O 1º Estado membro da CPLP a ser referenciado é a Guiné Equatorial. Pois, a economia está em recessão e as perspetivas não são boas para os próximos meses, uma vez que se prevê uma queda na produção petrolífera, a principal fonte de receita.

Depois surge Angola, um dos países africanos mais dependentes do petróleo (28,9% do PIB e 95% das exportações). O relatório diz que o PIB cresceu 0,9% em 2023, muito menos do que os 3,5% previstos. O futuro da economia não parece brilhante, com a baixa dos preços do petróleo, a queda da produção, o aumento da dívida externa e os encargos com amortizações dessa dívida.

No caso de Moçambique, o PIB real cresceu cerca de 5,0% em 2023, depois de em 2022 ter crescido 4,2%. A economia está sustentada pelas indústrias extrativas de gás natural. No entanto, o relatório do BAD refere que a pobreza se mantém elevada, com 74,5% da população (24 milhões de pessoas) a viver na pobreza. Ou seja, o crescimento da economia não tem sido inclusivo.

Em São Tomé e Príncipe há demasiados problemas a afetar a economia. O maior deles será a inflação que atingiu os 21,3% no final de 2023. O país não tem estruturas que garantam segurança energética nem segurança alimentar. O relatório refere que o país é incapaz de alcançar uma trajetória de crescimento capaz de reduzir a pobreza.

O crescimento do PIB de Cabo Verde permanece volátil devido à sua dependência de atividades turísticas intensivas e à vulnerabilidade a choques relacionados com o clima. Por outro lado, o consumo privado reforçou o crescimento, num contexto de queda da inflação à medida que os preços dos produtos alimentares e dos produtos energéticos diminuíam. O BAD aconselha Cabo Verde a copiar os procedimentos adotados por outros países insulares, no caso as Seychelles e as Maldivas, desenvolvendo a indústria da pesca e da transformação do pescado, criando canais de exportação, criar serviços financeiros e não depender tanto do turismo.

No caso da Guiné-Bissau, alguns elogios. Diz o relatório que “apesar do difícil contexto económico e político na Guiné-Bissau, o PIB cresceu 4,3% em 2023, acima dos 4,2% em 2022, impulsionado pelo renovado dinamismo na agricultura graças à forte produção de arroz. Do lado da procura, o crescimento foi impulsionado pelo investimento. Os preços mais elevados dos alimentos e os preços internacionais do arroz empurraram a inflação para 7,2% em 2023, contra 6,9% em 2022.
Preocupações relacionadas com a despesa pública. O défice orçamental cresce e tem sido financiado por donativos, empréstimos e títulos públicos, elevando a dívida pública para mais de 80% do PIB, criando um elevado risco de sobreendividamento.
Preocupações também com a dependência excessiva da monocultura do caju. Quando o preço cai nos mercados internacionais, aumenta a pobreza na Guiné-Bissau.
No futuro próximo, o relatório prevê crescimento económico consolidado em 4,7% em 2024 e 5,2% em 2025, refletindo o investimento contínuo, as reformas de governação para melhorar o ambiente de negócios e a normalização das exportações de castanha de caju. A inflação deverá cair para 5,4% em 2024 e para 3,1% em 2025, em resposta ao contínuo aperto da política monetária por parte do Banco Central dos Estados da África Ocidental.
Nos conselhos, o relatório refere que o investimento nas indústrias transformadoras, o desenvolvimento de cadeias de valor locais (agricultura, pesca), o desenvolvimento de capacidades e o acesso a infra-estruturas ajudariam a aumentar a produtividade.
O relatório refere, ainda, que entre os principais riscos para o crescimento económico está a instabilidade política. Devido à elevada dívida do país, alcançar o impulso para a transformação estrutural requer um apoio financeiro externo substancial. Para tirar partido da arquitectura financeira global, as autoridades terão de garantir a estabilidade política e institucional, acelerar as reformas destinadas a uma governação transparente e à mobilização de recursos internos, e melhorar a gestão da dívida para reduzir o risco de sobreendividamento.