Disseram-nos que foi um ciberataque em que centenas de documentos secretos enviados pela NATO para Portugal apareceram à venda na Internet, segundo foi amplamente noticiado.
Aconteceu em data não divulgada, provavelmente em 24 de agosto, segundo se depreende pelo relato publicado no Diário de Notícias, o jornal que teve acesso a esta informação em primeira mão.
O alerta surgiu quando agentes da inteligência norte-americana detetaram centenas de documentos NATO enviados para Portugal à venda na ‘darkweb’. A embaixada em Lisboa comunicou a situação diretamente a António Costa.
Tudo isto é estranho. Primeiro, o que foi tornado público pretende dizer que o ataque não foi mais do que um assalto para vender documentos roubados. Seria mais lógico que os assaltantes contactassem diretamente quem pudesse estar interessado na aquisição.
Segundo pormenor estranho é a divulgação do sucedido. Não foi feita de imediato e não foi feita oficialmente (num comunicado do Ministério da Defesa, por exemplo). O modo como a notícia foi divulgada (através de fontes anónimas) parece indiciar que se esperou pelo momento de espalhar a notícia. E o facto de se ter escolhido o veículo (no caso, o Diário de Notícias) ajuda a fortalecer a ideia de que estamos perante um esquema planeado.
Terceiro: seria lógico que as comunicações NATO tivessem um nível de segurança comum nos diferentes Estados membros. Ou seja, o assalto foi feito a computadores instalados em Portugal, mas foram os americanos a dar por ele.
Quarto elemento estranho é o modo como o facto chegou ao conhecimento do Governo português. Serviços secretos estrangeiros comunicaram “diretamente” ao primeiro-ministro português? Ultrapassando todas as vias de comunicação protocoladas? O normal seria terem comunicado aos serviços de segurança nacionais que, por sua vez, comunicariam ao ministro da Defesa e o primeiro-ministro só seria incomodado em caso de estrita necessidade. É assim que as coisas funcionam.
Fonte próxima dos serviços secretos portugueses, diz-nos que podemos estar perante um “exercício” destinado a manter os níveis de alerta elevados, um “estímulo” para a tomada de certas decisões políticas, mais um elemento para disseminar na opinião pública uma narrativa convincente.
O nosso interlocutor avança com a hipótese de, um dia destes, ser divulgado que o ataque foi da autoria de hackers russos. Diz ele que nos últimos dez anos, nos meandros da espionagem e contrainformação, se começou a estruturar a retórica de associar o conceito de estado terrorista à Federação Russa. Na verdade, algo que tem sido mencionado constantemente nas últimas semanas pelo Presidente da Ucrânia, Volodomyr Zelensky.