ESPIÕES E MENTIRAS

Não devemos acreditar em tudo o que aparece escrito nos jornais ou é dito nos canais de rádio e televisão.

0
1096

Disseram-nos que foi um ciberataque em que centenas de documentos secretos enviados pela NATO para Portugal apareceram à venda na Internet, segundo foi amplamente noticiado.

Aconteceu em data não divulgada, provavelmente em 24 de agosto, segundo se depreende pelo relato publicado no Diário de Notícias, o jornal que teve acesso a esta informação em primeira mão.

O alerta surgiu quando agentes da inteligência norte-americana detetaram centenas de documentos NATO enviados para Portugal à venda na ‘darkweb’. A embaixada em Lisboa comunicou a situação diretamente a António Costa.

Tudo isto é estranho. Primeiro, o que foi tornado público pretende dizer que o ataque não foi mais do que um assalto para vender documentos roubados. Seria mais lógico que os assaltantes contactassem diretamente quem pudesse estar interessado na aquisição.

Segundo pormenor estranho é a divulgação do sucedido. Não foi feita de imediato e não foi feita oficialmente (num comunicado do Ministério da Defesa, por exemplo). O modo como a notícia foi divulgada (através de fontes anónimas) parece indiciar que se esperou pelo momento de espalhar a notícia. E o facto de se ter escolhido o veículo (no caso, o Diário de Notícias) ajuda a fortalecer a ideia de que estamos perante um esquema planeado.

Terceiro: seria lógico que as comunicações NATO tivessem um nível de segurança comum nos diferentes Estados membros. Ou seja, o assalto foi feito a computadores instalados em Portugal, mas foram os americanos a dar por ele.

Quarto elemento estranho é o modo como o facto chegou ao conhecimento do Governo português. Serviços secretos estrangeiros comunicaram “diretamente” ao primeiro-ministro português? Ultrapassando todas as vias de comunicação protocoladas? O normal seria terem comunicado aos serviços de segurança nacionais que, por sua vez, comunicariam ao ministro da Defesa e o primeiro-ministro só seria incomodado em caso de estrita necessidade. É assim que as coisas funcionam.

Fonte próxima dos serviços secretos portugueses, diz-nos que podemos estar perante um “exercício” destinado a manter os níveis de alerta elevados, um “estímulo” para a tomada de certas decisões políticas, mais um elemento para disseminar na opinião pública uma narrativa convincente.

O nosso interlocutor avança com a hipótese de, um dia destes, ser divulgado que o ataque foi da autoria de hackers russos. Diz ele que nos últimos dez anos, nos meandros da espionagem e contrainformação, se começou a estruturar a retórica de associar o conceito de estado terrorista à Federação Russa. Na verdade, algo que tem sido mencionado constantemente nas últimas semanas pelo Presidente da Ucrânia, Volodomyr Zelensky.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui