“UM SÍTIO MAL FREQUENTADO!”

Eça de Queirós garantia que Portugal não era bem um país mas “um sítio, ainda por cima mal frequentado”. Lembro-me muitas vezes, infelizmente, dessa frase.

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1918

Desta vez não me sai da cabeça desde que vi uma criança de 10 anos, em tronco nu, a assistir a um jogo de futebol porque um Segurança cobarde seguiu as instruções de uma direcção, composta por energúmenos, que proíbem que os assistentes, que pagaram (caro) um bilhete, “utilizem adereços afetos ao clube visitante nas zonas das bancadas destinadas aos adeptos da formação da casa”.

Nos países civilizados o futebol é um espectáculo e uma festa. Ponto de encontro de amigos e famílias que se sentam para, durante hora e meia, se deliciarem com o desporto de que gostam. Gritam pelos seus, aplaudem as boas jogadas da sua equipa, gozam com os adversários quando levam a melhor e suportam as brincadeiras deste quando se “vira o bico ao prego”.

Nos sítios mal frequentados o que conta é ganhar a todo o custo e não se aceitam críticas ou, sequer, brincadeiras dos adversários. Daí que, por vezes, a uma “boca” se responda com um insulto, a este com uma agressão e, a esta, um pandemónio.

As bancadas estão repletas de gentinha frustrada que não aceita juntar, aos desaires do seu dia-a-dia, uma derrota da “sua” equipa. Quanto mais o gozo dos adeptos das equipas adversárias. Um modo de evitar essas confusões foi criar espaços separados para os adeptos das duas equipas em acção.

Caso acabem os bilhetes nos espaços destinados à equipa visitante, e para não se perder o dinheiro que estes podiam deixar nas bilheteiras, acabam por vender bilhetes que, em princípio, estariam destinados aos adeptos da equipa visitada. Só que, os portadores destes, terão de entrar disfarçados não se podendo, sequer, manifestar se a sua equipa merecer aplausos. Nunca percebi como há adeptos a aceitarem estas regras absurdas, mesquinhas e, creio, ilegais.

Mas a verdade é que o simples facto de levarem uma camisola, ou um cachecol da sua equipa, ou vibrarem com um golo da mesma, é considerado motivo para serem agredidos pelos anormais que aproveitam estes jogos para mostrarem toda a sua incapacidade de viverem em sociedade. As claques são, geralmente, um grupo de gente mal formada, inculta, cobarde e mesquinha. Mas que, em multidão, se torna perigosa.

Um grande problema, para as equipas que aceitam as atitudes dos fanáticos boçais, é que estes podem levar ao vazio das bancadas. Algo já visível quando os jogos não têm, pelo menos, a intervenção de uma das quatro maiores equipas do campeonato. É frequente ver, na televisão, jogos com poucas centenas de adeptos.

No dia em que as atitudes destas bestas levarem a que as direcções das grandes equipas convençam os seus adeptos a não se deslocarem a alguns campos, os dirigentezitos que, hoje, aceitam estas vergonhas, terão de mudar as regras e afastar os jumentos dos locais destinados a gente. O problema maior é que é desta corja de agressores que são eleitos os directores.

Não será fácil, estou certo, acabarem as imagens de crianças, que só têm o sonho de ver os seus ídolos em paz, em tronco nu, numa bancada qualquer, graças, unicamente, às decisões de acéfalos.

Essas imagens, mais do que nos chocarem, fazem-nos perceber a distância a que estamos de um país civilizado.

Uma tristeza!

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