Marcelo em digressão por Timor-Leste, um show de alegria, empatia e algumas mentirolas. Imprecisões, se quiserem. A última foi reproduzida pela RTP, no Telejornal. Vimos e ouvimos o senhor Presidente dizer ao seu homólogo timorense que “tem aqui 200 professores e professoras que, todos os dias, em todos os pontos do território de Timor, estão a trabalhar pela sua Pátria…”.
Dito assim até pode soar bem. Mas é uma falácia. Falta contar o resto da história. Vejam bem. Duzentos professores, metade dos quais estão colocados na Escola Portuguesa de Dili. Da outra metade, uma boa parte tem funções administrativas ou de assessoria em diferentes ministérios do Governo timorense. Os que sobram, estão colocados nas chamadas “escolas de referência”, uma dúzia de estabelecimentos escolares, espalhados pelo país. Ou seja, é mínimo o número de escolas que beneficiam da colaboração de um professor português. Tanto mais que o universo escolar timorense soma cerca de 8 mil escolas básicas. Uma em cada aldeia. Quer isto dizer que o número de falantes de português diminui percentualmente todos os dias.
Em 2012, o Banco Mundial publicou um relatório sobre o sistema de ensino em Timor-Leste. Dizia esse relatório que mais de 70% dos professores timorenses não tinham mais do que o equivalente ao ensino secundário e que 30% desses professores só sabiam transmitir conhecimentos em língua bahasa indonésio. E dizia, ainda, que a quase totalidade das crianças das escolas do ensino básico não tinham acesso a manuais ou livros escolares.
Quem vive ou viveu em Timor-Leste sabe que esta é a realidade escolar do país e sabe que o ensino de português é uma tarefa votada ao insucesso, na perspetiva de que venha algum dia a ser a língua falada em Timor-Leste. Quem conhece Dili, sabe que há várias escolas privadas de ensino de língua inglesa e nenhuma onde se possa aprender a falar português. Ou seja, o ensino do português não é negócio. É uma questão política, paga pelos contribuintes portugueses.