Ao telemóvel não se consegue ver o sorriso da pessoa com quem falamos (e as vídeo chamadas estão pela hora da morte…) mas às vezes é possível adivinhar. Pelo tom, pela ligeira tremura na voz, pelo teor da conversa, o sorriso adivinha-se. E quase que apostava como a minha amiga estava toda sorridente quando me disse que “já sabia que o Rendeiro não estava na África do Sul”. Terá sido a Maria de Jesus a confidenciar-lhe que tinha fornecido à PJ uma pista falsa.
“Mas, então, onde está esse gajo?”, perguntei-lhe eu, temeroso que a minha amiga se esteja a deixar envolver numa trapalhada de todo o tamanho. “Não sei, nem quero saber. Disse logo à Jesus que não me dissesse mais nada. Assim, se a polícia me perguntar, não precisarei de mentir”, respondeu-me. Fiquei aliviado, confesso.
E mentir à polícia e ao tribunal, não poderá trazer mais problemas à mulher “abandonada”? Não necessariamente. Ela até pode continuar a mentir e dizer que não sabe, que foi enganada por aquele malandro, etc. Como a PJ não usa polígrafo, fica difícil saber ao certo se alguém responde com verdade às perguntas postas.
Estava nestas conjeturas quando me assaltou uma ideia maluca. E se o homem não foi assim tão longe? Andam à procura dele pelo Mundo fora, mandatos internacionais de detenção, a Interpol e o diabo a sete, mas será que procuraram debaixo da cama? Isto é, nas redondezas. Não digo na Quinta Patiño, mas quem garante que o tipo não está onde ninguém suspeita? Bastaria deixar crescer o bigode, usar uma peruca e já poderia ir tomar a bica no café da esquina sem ser reconhecido. Por acaso, há uns dias, vi passar alguém que me fez lembrar o Rendeiro, mas não liguei.
