Durão Barroso, vendedor de vacinas

Durão Barroso, presidente da Aliança Global das Vacinas (acrónimo GAVI), quer que os países ricos comprem vacinas anti-covid para os países pobres. Finalmente, percebe-se o que fez correr Barroso para este cargo na GAVI: promover o negócio dos laboratórios que produzem vacinas.

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No caso das vacinas anti-covid já foram os países mais ricos, e a União Europeia no seu conjunto, que financiaram a produção das vacinas, com o esquema de pré-compra que foi implementado. Ou seja, meses antes de haver vacinas, os laboratórios farmacêuticos já tinham contratos estabelecidos e dinheiro a entrar na caixa registadora.

Durão Barroso vem agora criticar esses países, dizendo que o esforço de distribuição equitativa de vacinas contra a covid-19 está a ser prejudicado por “governos que podiam e deviam estar a fazer mais”. Durão Barroso apontou disparidades entre os níveis de vacinação das populações de países de rendimentos mais altos e os de rendimentos mais baixos, referindo que apenas “2,4 por cento das pessoas em países de baixos rendimentos receberam pelo menos uma dose de vacina” e que “apenas 4,6% da população africana está vacinada”. O soundbyte final foi: “Há um problema real de desigualdade. Isto é moralmente inaceitável”.

Acontece que a imoralidade da desigualdade é coisa velha, não se resume a vacinas. Começa no local onde cada um de nós nasce, continua no prato de lentilhas, no acesso ao ensino, aos cuidados hospitalares, na segurança, nas oportunidades e, sim, a pandemia não se inibe de afetar os mais pobres.

Assim, ficava-lhe bem pressionar os laboratórios a oferecer aos países pobres uma parte do que produzem. Não imaginamos qual a margem de lucro dos produtores de vacinas, mas certamente que dedicar 10% dessa produção aos mais pobres não lhes iria causar grande dano. Mas, provavelmente, os acionistas desses laboratórios não concordam com isto. Talvez esse seja o verdadeiro problema.

Mas, enfim. Durão Barroso está a cumprir o papel para o qual foi escolhido pelo Conselho de Administração do GAVI. É a agradar aos que o têm escolhido que ele tem feito carreira ao longo da vida, desde que foi convidado para ser presidente da Comissão Europeia, convidado para ser chairman do Banco Goldman Sachs e, agora, convidado para a presidência da GAVI (acumulando com o Goldman Sachs). Dizem que o cargo não é remunerado. Mas as senhas de presença…

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