Turismo, a galinha não põe ovos

O número de hotéis de três, quatro e cinco estrelas na cidade de Lisboa quase duplicou nos últimos dez anos, antes da pandemia. O site do Turismo de Portugal diz que Lisboa tem 1155 hotéis, 92 mil camas vazias neste momento. Entre tantos hotéis, visitamos (incógnitos e de máscara) um deles. O Hotel Pestana Palace, 5 estrelas amareladas.

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O Rei D. Carlos fez dele Marquês. Naqueles tempos, os Reis davam títulos aos homens ricos. Um pouco à semelhança do que fazem hoje os Presidentes da República com os Comendadores. José Luís Constantino Dias foi, assim, o primeiro e único Marquês de Vale Flor. O dinheiro veio da colónia de São Tomé e Príncipe, com o negócio da produção de cacau. Ainda hoje, o cacau é o que São Tomé e Príncipe produz com excelência.

O que fez ele com o dinheiro? Construiu um palácio. Marquês sem palácio era coisa impensável. O Palácio Vale Flor é hoje o magnífico Hotel Pestana Palace. O requinte inerente às 5 estrelas que estão gravadas na placa de metal amarelo cravada no muro ao lado do portão que nunca se fecha.

O portão está sempre aberto, mas poucos têm entrado no hotel nos últimos meses. A pandemia deu cabo do turismo e sem turismo os hotéis estão letárgicos, moribundos. Vamos a uma casa de banho, abrimos a torneira e a água sai amarela, sinal de falta de uso daquela torneira.

Nas paredes dos corredores no rés-do-chão estão as fotografias de um passado recente que prometia futuros gloriosos. Clientes famosos que passaram por lá e que ajudaram a dar fama ao local.

E há também aqueles que emprestaram o “nome de guerra” aos empreendimentos hoteleiros a ver se rentabilizavam a fortuna que ganham a jogar à bola. Falamos no plural porque Cristiano Ronaldo vale por sete.

Quanto custa manter um hotel destes, sem clientes? Quanto custa manter uma cadeia de hotéis destes, sem clientes? Claro que CR7 diversificou os seus investimentos. Ninguém ajuizado e bem aconselhado deposita todos os ovos no mesmo cesto. Nem mete golos sempre na mesma baliza. Mas que o investimento está tremido, lá isso deve estar. A história deste lugar já teve muitos episódios, o edifício até já foi sede do Governo, no tempo do primeiro-ministro Mário Soares.

Quem hoje entra neste sumptuoso palácio hoteleiro não vê ninguém nos corredores. Não se sente ninguém nos quartos. O bar está frio e vazio. Alugam-se salas à hora. Na recepção, o telefone deixou de tocar. Não há táxis parados à porta. O jardim sem gente, a piscina vazia.

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