UMA SABOROSA TRADIÇÃO DE VISEU

PASTÉIS DE FEIJÃO

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Têm quase jeito de sabor conventual os pastéis de feijão que voltaram à nossa mesa, depois de alguns anos de apagamento. Regresso auspicioso, sustentado pela apelativa imagem do quadriângulo alongado, que traz da original forma – pela leveza da massa folhada enfeitada por ligeira bordadura, pela mágica tonalidade de oiro velho de um apetecível recheio que surpreenderá o mais exigente paladar.

Só de vê-los agora, soltos sobre a brancura ou o desenho enramado de uma travessa, a quentura de um café por companhia, virá à memória de quem é mais velho a larga montra iluminada da emblemática e saudosa Pastelaria Santos, ali às Quatro Esquinas, onde a eterna Rua Direita se abria antigamente para os campos de S. Martinho, em Cimo de Vila.

E evocar-se-á a figura do decano Mestre Adelino, que, ao balcão, servia, como imagem de marca da cidade, a naturais e forasteiros, o pastel de ocasião ou a caixinha ao tempo armada em grosso papel de tipo costaneira, por rótulo apenas o cheirinho bom e o enlevo pressentido de quem receberia o presente.

João Mendes Fontes Marques, que, com seus filhos, governa criteriosa empresa familiar, reavivou memórias de um tempo de quase adolescente em que serviu, como aprendiz de oficina e gentil moço de servir à mesa, na Pastelaria nomeada, de que guardou algumas das icónicas formas de metal ao tempo utilizadas e o pastel de feijão, de grata lembrança, retorna ao espaço e tempo das alegres convivialidades.

Mas quando, água na boca, quase se estremece de prazer ao saborear a delícia do cremoso recheio e a delicada textura do folhado, mal se imagina a noite perdida, as demoradas horas de oficina, a preparação da massa, que se afinará com o perpassar do clássico rolo e a moderna ajuda da “laminadora”, o sábio dosear da margarina, o rigor do fazer do ponto de açúcar onde se caldeiam, a seu tempo, as douradas gemas de ovo e a macia dosagem do feijão branco moído.

E, depois, a minúcia do talhar, com o cortador, as quase poéticas e finíssimas fatias da massa que, uma a uma, cobrirão o corpo alongado da forma, para onde se vazará, pouco depois, tabuleiros cheios, o apurado ouro do recheio a que o justo calor do forno, por um tempo medido, dará a alma que repousará, viva, nesse fresco lençol de massa que aquieta o mel de uma soberba natureza.
Sabores da terra, terra-mãe que sempre deve ser celebrada, pois de seu húmus veio esse mágico fruto, o feijão, que tão português se tornou.

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