Quem inventou o vinho é difícil de dizer. A História não dá certezas e a arqueologia tem dificuldade em perceber onde e quem começou primeiro a produzir vinhos. Não havendo registos escritos na pedra, sobram os chamados livros sagrados para consultar com a devida distância.
Por exemplo, os cristãos que conhecem as escrituras acreditam que o primeiro vitivinicultor foi Noé. E também o primeiro bêbado. De acordo com várias fontes consultadas, a passagem bíblica de Génesis 9:20-25 refere que quando Noé chegou ao Monte Ararat tornou-se lavrador e cultivou uma vinha. Com as uvas produziu uma bebida de que gostou tanto que se embriagava e era frequentemente encontrado caído no chão nu.

Pelos vistos, Noé não tinha boas ressacas. Lendas, exageros, claro está.
A cada nova descoberta, os pesquisadores refazem a História e as vinhas encontradas na região do Cáucaso, na Geórgia, com cerca de 2 mil anos, já foram ultrapassadas pelos fósseis de videiras, com cerca de 20.000 anos, encontrados num sítio arqueológico em Israel.
Mas o vinho não resiste tanto tempo, até porque as condições de armazenamento não eram pensadas para que o líquido perdurasse milénios. Os vinhos bebíveis mais antigos não têm mais de 200 anos, são raros e atingem preços astronómicos. Ou seja, não se sabe quase nada sobre o vinho que se fazia antes do século XIX, até porque a filoxera arrasou com as vinhas na Europa. Os pés de vinha que sobreviveram foram os enxertados com uma variedade americana que era imune à doença. Ou seja, o vinho que hoje bebemos não deve ter nada a ver com o vinho que os nossos decavós beberricavam.
O GARRAFÃO ENTERRADO
Há agora uma possibilidade de ficarmos a saber como era esse vinho. Arqueólogos chineses descobriram um túmulo com cerca de 3 mil anos onde estavam vários objetos que pertenceram ao falecido e um garrafão de vinho. O que é espantoso é que o garrafão estava cheio. São três litros de vinho ancestral.

O achado arqueológico foi detetado em 2010, mas o garrafão só agora foi aberto. Descoberto nas ruínas de Daxinzhuang, na cidade de Jinan, no leste da China, o túmulo remonta ao final da dinastia Shang – um período da história chinesa que se estendeu de aproximadamente 1600 a 1046 a.C.
Analisado o líquido no laboratório de pesquisa científica da Universidade de Shandong, os resultados mostraram que o líquido continha etanol, mas não açúcar nem proteína. Ou seja, este líquido não derivou de uma fermentação de arroz e foi destilado.
Os arqueólogos acreditam que este líquido alcoólico seja semelhante a um licor medicinal descrito em antigos livros de medicina, do tempo da Dinastia Han.

O segredo para estar tão bem preservado ao fim de 3 mil anos está no formato curvo do gargalo do garrafão, que terá evitado a evaporação. Além disso, este túmulo estava enterrado a 4 metros de profundidade, o que lhe garantiu não ser perturbado pelas atividades humanas à superfície durante todo este tempo.
Segundo os antigos livros de medicina chineses, esta espécie de aguardente de vinho não seria apenas para degustar pelo prazer, mas serviria principalmente como anti-inflamatório, entre outras finalidades medicinais.
Pena que ninguém o tivesse provado. É através do palato que o vinho fala connosco.