“O LÍBANO É NOSSO”

O vídeo perturbador viralizou nos últimos dias: um pai israelita lê um livro ilustrado ao filho pequeno. O livro chama-se "Alon e o Líbano", uma versão colonial hardcore de qualquer inofensivo "Anita vai à praia".

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O vídeo perturbador viralizou nos últimos dias: um pai israelita lê um livro ilustrado ao filho pequeno. O livro chama-se “Alon e o Líbano”, uma versão colonial hardcore de qualquer inofensivo “Anita vai à praia”.

Neste caso, a história é sobre Alon, um menino israelita que mora num kibutz na fronteira com o Líbano e expressa o desejo de passear por lá. É avisado de que não pode ir porque “ainda não é nosso”, e Alon afirma: “O Líbano é nosso”.

Este livro infantil, escrito por um professor universitário israelita e apoiado por grupos de extrema-direita, tal como os currículos escolares em Israel ajudam a perceber como é possível o que está a acontecer naquela parte do mundo, como é possível moldar desde que as crianças nascem e ao longo de toda a vida, a percepção de um conflito, a legitimidade da violência contra palestinianos (e libaneses), como é possível desumanizar povos inteiros.

Numa palestra em Coimbra, na sexta-feira, a relatora especial da ONU para a Palestina, Francesca Albanese, referiu o impacto tremendo que a educação israelita tem na endoutrinação de crianças e jovens, na lavagem cerebral a que são sujeitas desde que nascem, como são ensinadas a odiar palestinianos, árabes, muçulmanos, a desumanizá-los.

Não é de agora que o sistema de ensino israelita tem sido criticado, e denunciado, por exigir, por exemplo, que os estudantes do ensino secundário estudem com detalhe a ideologia e os princípios nazis.

É relativamente unânime a importância de conhecer a História (para que “os erros do passado não se repitam”, diz-se, mais parecendo hoje em dia uma piada de mau gosto), mas o caso israelita obriga-nos a refletir sobre a forma como isso é/deve ser feito. O uso da memória do Holocausto é instrumentalizado em Israel como forma de doutrinação nacionalista, como justificação para a opressão e ocupação no tempo presente, e ao centrar-se nos detalhes da ideologia nazi desvia o foco da reflexão sobre as suas consequências humanas e éticas. O ensino da História é, desta forma, colocado ao serviço da procura perpétua por vitimização e vingança.

A forma de abordagem é tudo, e quando “a educação não é libertadora o sonho do oprimido é tornar-se o opressor” (obrigada, Paulo Freire).

Em Israel, as crianças e os jovens nascem e crescem a ser ensinadas a odiar. E isso ajuda-nos a compreender muito do que acontece por lá.

Já fora de Israel é mais difícil de perceber porque razões não conseguimos parar este horror. Talvez se situe algures entre os interesses geo-estratégicos, militares, económicos dos donos do mundo e o colonialismo e racismo embutidos em nós (bem-comportadas marionetas), e que variando ao sabor dos interesses e umas vezes contra judeus, outras contra árabes, outras contra imigrantes, outras contra ciganos, outras contra negros, outras contra refugiados, outras contra…(quem se segue?), não se extingue das nossas mentes e leva-nos a acreditar, continuamente, que a vida de uns vale mais do que a vida de uns outros.

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