Escolhemos a sessão das 21h40 na sala 7 dos cinemas do El Corte Inglês. Uma sala vazia, completamente vazia. Nunca teve mais do que duas pessoas a assistir ao filme.

É assim que o meritório trabalho de uma vasta equipa que produziu e realizou este filme nem para o boneco serve. Uma pena, não só porque os atores são bons mas a história é muito boa. “Sobreviventes” dá vida à história do naufrágio de um navio negreiro, algures no Atlântico, entre Angola e o Brasil. A trama desenrola-se em meados do século XIX, numa altura em que o tráfico já se encontrava em fase de extinção. Mas, como bem sabemos, uma coisa é a lei e a outra é o que as pessoas fazem dela.
Rodado em 2022 na costa portuguesa, esta longa-metragem conta com interpretações de Anabela Moreira (Emília), Zia Soares (Vissolela), Ângelo Torres (Uelema), Miguel Damião (Fradique Mendes), Alex Miranda (João Salvador), Roberto Bomtempo (Gregório), Paulo Azevedo (padre Angelim), Kim Ostrowskij (Inês) e Hugo Narciso (Mutu). Um interessante mix neste grupo de experientes atores e de nomes novos da dramaturgia nacional.
O ritmo narrativo do cinema europeu não tem nada a ver com o que se faz em Hollywood ou mesmo em Bollywood. Os guionistas e cineastas europeus, neste caso os portugueses, têm apetência por alguma contemplação paisagística, desviam-se por variantes etnográficas e antropológicas. São pormenores talvez interessantes para minorias intelectuais mas que afastam a maioria dos que vão ao cinema para se entreterem e comer pipocas. “Sobreviventes” tem alguns momentos assim.
Voltando à sala vazia, temos de dizer que a promoção deste filme quase não existe, limitando-se a um spot nas redes sociais e pouco mais. Não há cartazes dos “Sobreviventes” nos outdoors, não há reportagens nos media, não há entrevistas com os atores, o peso de nomes como os de Agualusa (no guião) e de Milton do Nascimento (na banda sonora) não foi devidamente aproveitado.
Dos filmes em exibição, neste complexo de salas de cinema do El Corte Inglês, este talvez seja o único filme que não tem um cartaz nas paredes a chamar a atenção para ele. Há sempre indecisos que escolhem o que vão ver quando chegam à porta do cinema. Não se pode escolher o que se desconhece que existe.
Talvez não fosse má ideia que parte dos subsídios à produção cinematográfica fosse obrigatóriamente destinada à promoção das obras.
Fizeste muito bem, Carlos, em chamar a atenção para tema tão candente, sobretudo (desculpa!) pelo que dizes no final: promoção precisa-se! Urge! Fui cinéfilo na juventude e cheguei mesmo a coleccionar críticas de cinema na década de 60; agora, confesso-me preguiçoso, mas ler o que tu agora escreveste faz-me pena!
Acho que o mal alastrou a todo o universo cultural. O teatro também não vive da bilheteira, salvo algumas excepções. Os artistas plásticos não vivem da sua criatividade, creio que a maioria terá um modo de vida qualquer que lhe garanta o pagamento das contas e, depois, a pintura, a escultura, a fotografia, a escrita literária, serão atividades de lazer nas horas vagas…