Não era minha intenção escrever sobre esta matéria, até por me ser muito próxima em termos profissionais. Mas ouço verdadeiras barbaridades nas televisões e não vejo ninguém ter bom-senso. José Manuel Anes, pessoa com quem lidei durante muitos anos, enquanto jornalista no Diário de Notícias, é criminalista e membro de diversos organismos ligados à segurança e criminalidade. Ouvi-o dizer na RTP3 aquilo em que creio firmemente: estas pessoas que estão a incendiar carros e autocarros são criminosos. Não estão a protestar pelas circunstâncias da morte de Odair Moniz, de 43 anos, morador no Bairro do Zambujal, baleado por um agente da PSP na madrugada de dia 21, no Bairro da Cova da Moura, porque, se o estivessem a fazer, manifestavam-se pacificamente e sem danificar os bens de todos (autocarros e ecopontos) e, sobretudo, os dos seus vizinhos.

Recorde-se que até sábado tinham sido registadas 123 ocorrências nos concelhos de Almada, Amadora, Barreiro, Cascais, Lisboa (freguesias de Benfica, Lumiar, Alvalade, Alcântara e Marvila), Loures, Odivelas, Oeiras, Seixal, Setúbal e Sintra, bem como um incêndio num ecoponto na cidade de Leiria. Os balanços apontam ainda para 21 detidos, suspeitos relacionados com os desacatos e 19 outros identificados. Cinco viaturas policiais ficaram danificadas, por terem sido incendiadas ou apedrejadas e engenhos pirotécnicos foram arremessados contra uma esquadra da PSP.
Deixem-me referir que, só na primeira noite após a morte de Odair Moniz, 13 carros, cinco motas e vários caixotes de lixo foram incendiados. E não compreendo: estes carros eram de quem? Dos seus vizinhos? Aqueles que ouvimos dizer nas notícias que ‘já basta!’ porque ainda estavam a pagar o carro, não têm seguro contra todos os riscos, nem (agora) transporte para o trabalho, para levar os filhos à escola…

A morte de Odair Moniz foi uma tragédia sem nome. Não tenho dúvidas de que haverá um julgamento. E só aí se saberá de verdade o que sucedeu naquela noite. De momento há especulações com facas e sem facas, com carros abalroados e traços contínuos. Há, pois, muito ruído em volta de todo este drama, baseado em diz-que-disse e, eventualmente, violações de segredo de Justiça. E há um jovem polícia que, independentemente do resultado deste julgamento, se penalizará a vida inteira por ter morto um homem.
A VIDA NOS BAIRROS
Vivi, durante mais de 15 anos, na Buraca. A minha filha mais nova frequentou a creche da Cova da Moura e a escola local. Fizemos amigos ali e vi crescer muitos jovens, inclusive aqueles que deram origem a projectos fantásticos de inclusão na zona.
Que havia ali criminalidade? Absolutamente sim! Como havia em outros locais de Lisboa. Que esta criminalidade cresceu é uma verdade. Que as pessoas se sentem discriminadas também. Mas muitos houve que souberam resistir ao argumento fácil do racismo. Acredito que há racismo em Portugal. Mas acredito mais na luta contra a criminalidade e na integração de pessoas que, volvidos tantos anos a viver em Portugal, respeitam as suas tradições mas respeitam igualmente as do País que as acolheu.
Agora vejamos: Os moradores e comerciantes da zona de Sete Rios sofrem, desde há mais de seis meses, com constantes agressões a pessoas idosas (e não só) nas ruas de S. Domingos de Benfica, em particular na Rua Prof. Lima Basto e perpendiculares, na Avenida Columbano Bordalo Pinheiro e adjacentes.
Parece que não existem muitas queixas, porque as pessoas perguntam-se para o que servem as queixas? Para as estatísticas? É que não se vê um maior policiamento.
Além disso, os restaurantes reclamam, sobremaneira, contra indivíduos que ali almoçam, alguns opiparamente, e no final não pagam. Segundo os empregados e proprietários, quando lhes dizem que vão chamar a polícia, os mesmos avisam que não beberam vinho e, por isso, de acordo com a lei, não podem ser penalizados.
Há cerca de um mês, por isso muito antes da morte de Odair Moniz, na noite de 28 de Setembro, depois da tentativa de furto de um carro na Rua Prof. Lima Basto, presumivelmente o mesmo indivíduo (e não, não era negro, embora, pelo sotaque, fosse estrangeiro), já na madrugada de 29, pelas 2 horas, ateou fogo aos carros, com os riscos inerentes a esta situação: chamas muito violentas, pneus a rebentar, danos em três outras viaturas… A situação só não foi mais grave porque alguns dos moradores ainda não estavam a descansar e conseguiram alertar rapidamente os bombeiros e a polícia.
Na mesma noite e na mesma rua, houve, pelo menos, um veículo que foi efectivamente assaltado, tendo o seu proprietário afirmado que levaram tudo o que estava dentro do carro, excepto o que estava na bagageira.
A PSP e PJ informaram que existiram, nessa mesma noite, outros veículos furtados e pelo menos um outro incendiado no Bairro do Rego.
Verificou-se, posteriormente, que as poucas câmaras de vigilância da zona se encontram viradas para as portas, dada a inexistência de autorização para que filmem o que se passa na rua. Isto é tanto mais incompreensível porquanto, se formos à Amadora, todas as ruas têm câmaras de vigilância.
E repito: tudo isto foi um mês antes da morte de Odair Moniz. Dizer, pois, que quem está agora a incendiar carros está a protestar é falso. Trata-se, tão somente, de criminosos que é urgente serem perseguidos pela Polícia.
Lamentável é o aproveitamento feito por um partido político ‘a favor da Policia’. Mas alguém está contra a Polícia? Se não fosse criminoso, seria risível.
Bravo, Margarida! Que não lhe doam as mãos! Perfeitamente de acordo consigo. Parabéns.