EM MEMÓRIA DA GALERA DE CASCAIS

São cerca de 120 páginas, profusamente ilustradas, onde se incluiu também um notável estudo do Doutor Paulo Morais-Alexandre sobre a evolução da Moda no último quartel do século XX.

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Na galeria da Junta da União de Freguesias Cascais Estoril, foi lançado, ao final da tarde de quinta-feira, 10 de Outubro, o livro Galera Modas – Loja com História, da autoria de João Aguiar e de José d’Encarnação, comemorativo dos 50 anos (1974-2024) desta loja fundada por Joaquim Aguiar ou «Joaquim da Galera», como é mais conhecido.

Os dois autores, João Aguiar (à esq.) e José d’Encarnação com o presidente da Junta de Freguesia

Abriu a sessão Pedro Morais Soares, presidente da Junta, que lembrou a figura que é Joaquim Aguiar, grande promotor da moda em Cascais, o fundador não apenas da Galera, na Rua Sebastião José Carvalho e Melo, mas também o grande dinamizador da Boutique Glória, na Rua Direita.

Na apresentação do volume, José d’Encarnação começou por afirmar que estamos perante  «um livro de amor»: do amor de João Aguiar a seu pai, o incansável criador e mentor de Galera Modas; do amor, por parte dos dois autores, ao coração puro da vila cascalense. Homenagem a que (referiu) se associaram vários amigos que quiseram deixar o seu testemunho sobre Joaquim Aguiar.

Pedro Morais Soares
José d’Encarnação
Nuno Piteira Lopes

Deu conta de aspectos da vida desta loja que foram singulares: a Galera foi das primeiras lojas a apoiar programas televisivos, como no caso do conhecido programa Sr. Feliz e Sr. Contente, que a ambos vestiu. Foi a equipa da Galera que meteu ombros à organização de desfiles de moda na Rua Direita, de incontestável êxito na altura, quando iniciativas desse teor ainda se não haviam pensado.

«Quem há aí», perguntou, a dado passo, «que se não lembre também da galera (galera / barco) que abrilhantou, anos seguidos, o corso carnavalesco de Cascais, depois de se haver extinguido o corso do Casino Estoril?».

Referiu a habitual visita de Jorge Amado e sua esposa Zélia Gattai; numa das vezes, a loja virou sala de assinatura da autógrafos!

Enquadrou o nascimento e a vida de Galera Modas na evolução do complexo espaço comercial da vila desde os anos 60 até à actualidade.

Recordou que os mentores da Galera frequentavam as grandes feiras de moda de Milão, Roma e Paris, contactando costureiros famosos, alguns dos quais chegaram a vir a Cascais.

folheando o livro: desfile de moda da Galera na rua Direita
A tradicional Galera no corso de Carnaval de cascais

Lamentou a transformação que recentemente sofreram as principais vias comerciais de Cascais, pejadas de estranhos linguajares, exóticos odores, onde os cascalenses se não reconhecem, como é o caso da sua bem saudosa, agora irreconhecível, Rua Direita, devido à avassaladora vaga imigratória do Oriente – facilmente acolhida ou simplesmente tolerada pelas gentes ocidentais («do mal o menos!», alguém dirá). Essa vaga matou a Rua Direita, como se sabe. E esse fúnebre tsunami espalhou-se pela Sebastião José de Carvalho e Melo, onde a Galera estava. Rapidamente começou a ficar atabafada e, sem espaço vital, acabou por sucumbir – como outras lojas também se afundaram vítimas desse vendaval do Oriente.

E terminou dizendo que a Galera «naufragou, enfim, embora – como Camões – tenha mantido um braço de fora e conseguiu salvar esta memória que aqui se deixa».

Fechou os discursos o vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, Nuno Piteira Lopes, recordando a Galera nos tempos da sua juventude, quando a visitava em companhia de seu pai. Agradeceu a João Aguiar pelas suas longas conversas sobre Cascais e as alterações que já se fazem sentir na Rua Direita e anunciou que o Executivo Municipal já começara a pôr ordem no comércio desregrado que naquela via se fazia sentir, não tendo nada a ver com o espaço que os cascalenses conheceram.

1 COMENTÁRIO

  1. Estive lá, como o Guilherme Cardoso sabe e deve ter registado nas suas sempre impecáveis imagens.
    Uma sessão muito contida em discursos, nada fastidiosa como outras costumam ser por excesso de elementos verborreicos exibicionistas.
    Mas a revista, com autoria e coordenação de João Aguiar e José d’Encarnação e oferecida gratuitamente ao público, era (é) um belo exemplar vistoso, como convinha a uma comemoração de 50 anos de uma loja que fez história no sector da Moda em Cascais.
    A galera foi, ainda antes da nossa Era, um navio de guerra notável no Mediterrâneo. Tomou especiais proporções e valorização de elementos na Idade Média. Por altura dos Descobrimentos havia uma galera portuguesa concebida no Algarve, que além de remos e velas propulsoras, ainda era valorizada com elementos de navegação desenvolvidos por uma ciência náutica activa que a tornavam o mais veloz e bem apetrechado navio de guerra a sulcar os mares. Sempre à frente.
    Perfeita analogia com uma loja de Moda que, pelos detalhes materiais e humanos, nunca se deixou ultrapassar.
    Parabéns Guilherme Cardoso, João Aguiar e José d’Encarnação.

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