De segunda-feira a sexta, quando chegava ao Colégio dos Órfãos o trabalho era sempre o mesmo. Providenciar com a funcionária os horários e possível ausência de algum docente. Se tal se verificava e havia ausência de dois tempos lectivos, imediatamente se processava, se possível, a sua substituição. Não havendo possibilidade o recurso era a ida para a biblioteca e num segundo tempo para o Bar,
sempre aberto (agora não sei).
Tudo mudou, pois naqueles tempos, dado termos diversas turmas por ano, desde o 5º ao 12º anos, havia sempre docentes da Escola Pública que pediam para acumular 10 a 13 tempos lectivos, (que maravilha trabalhar na Escola Pública, que tinham uma tal redução que se prestava a tal). Como o tempo mudou! A Escola Pública, dependente dos nossos impostos, não atrai docentes, quem paga são os
alunos. Greves? Até é bom.
Durante os quarenta anos, em que permaneci no Colégio dos Órfãos, (depois designado por Colégio de Nossa Senhora da Graça e agora Colégio Salesiano), também fizemos um dia de greve. O sindicato decretou dois dias de greve. No primeiro dia de greve, todos os docentes compareceram e deram aulas, como se nada se passasse. Ao longo do dia o Director, homem bom, vindo das terras de Timor, comunicou-nos: amanhã todos fazem greve, pois o governo anda a gozar convosco. E cumprimos o pedido do Director do Colégio. Para que conste, eu e muitos outros docentes éramos sindicalizados. O meu número – 402, dos mais antigos.
Durante o governo do Dr. Mário Soares ficámos sem acesso aos serviços de saúde pública , durante 6 meses.
Os tempos mudaram. Agora é a Escola Pública com falta de docentes, ganhando muito mais que na Escola Privada. Nesta os docentes não têm redução de tempos lectivos durante todos os anos em que lecionam, mesmo quando chegam ao topo da carreira. Reparemos nas diferenças: um docente da Escola Pública no topo da carreira aufere 3.507.92 euros; na Escola Privada, no topo da carreira e com as
mesmas habilitações, aufere 3.015.00 euros. É uma diferença pequena? Tudo isto sem o mesmo número de tempos lectivos semanais.
Acrescentemos a ADSE, só na função pública e aí encontramos a função pública em hospitais, clínicas, médicos… privados. Onde vão os da Escola Privada? Pagam um seguro se querem ter tais regalias. Mas não se fica por aqui: subsídio de alimentação? Na Escola Privada, desde que haja cantina é aí que o docente tem direito, senão quiser usufruir, não recebe nada.
Uma pergunta (sem resposta) e termino: por que razão os docentes da Escola Pública não se servem da cantina dos alunos, poupando aos nossos impostos milhares de euros? Acrescentam 6 euros dia de trabalho! É um espaço da escola onde muito se ensina e aprende. Aqui voltaremos no próximo texto.