O turismo português vive numa ilusão e o sonho pode estar prestes a transformar-se num pesadelo. Nos principais centros urbanos, os proprietários desembaraçaram-se dos inquilinos para poderem transformar as casas em unidades de turismo local ou, pura e simplesmente, venderem a empresas que se dedicam a esse ramo de negócio. Os preços subiram, continuam a subir ainda. Os bairros típicos descaracterizaram-se, já quase não têm “indígenas”, desapareceu o que fazia de Lisboa uma cidade com alma.
Acabámos de ouvir um dos organizadores da marcha do bairro da Bica, vencedora das marchas dos santos populares, dizer que a maioria dos participantes da marcha já não são do bairro, porque na Bica já não há gente em número suficiente para formar um grupo folclórico. E é assim, por todo o lado.
O espírito tuga de fugir aos impostos já foi topado pelos estrangeiros que nos visitam. Por exemplo, destaca deste site, a maioria dos cafés, bares e restaurantes da cidade não aceitam pagamento com cartões de débito ou crédito. Só em dinheiro. Por um lado, evitam pagar comissões bancárias, por outro evitam declarar ao fisco todas as vendas que fazem. É fácil, é barato, é dinheiro em caixa.
Outro pormenor da oferta hoteleira: “fica difícil encontrar restaurantes e bares que ofereçam uma ótima experiência, proporcionando qualidade sem roubar.” Ler isto é um bocadinho deprimente. Quase dá vergonha alheia.
Mas ainda não chegámos ao capítulo das coisas verdadeiramente más
Nesse capítulo, o primeiro aviso: “Lisboa mudou muito e tão rápido em uma década. Alguns bairros são difíceis de percorrer, sem se ser espremido como uma sardinha e não apreciará o ambiente ao seu redor. Toda a zona do Bairro Alto – Chiado é definitivamente a pior quando se trata de turismo de massas. O Bairro Alto ainda pode ser divertido para noitadas e bebidas, e no geral a área tem locais interessantes para visitar. Mas uma vez é mais do que suficiente aqui.” Ou seja, uma vez basta. Não ter clientes a voltar ou a não recomendar a experiência, é meio caminho para a falência do setor.
O segundo aviso é sobre a quantidade de gente sem abrigo que habita na cidade. Mais de 2 mil vagabundos, diz o site, o que pode representar, na opinião deles, “ameaças para os turistas que andam pela cidade à noite. Lisboa é bastante segura, mas algumas áreas são um pouco arriscadas”, diz quem escreveu isto, revelando que, sendo mulher, “estive em situações desagradáveis na zona do Rossio e do Martim Moniz.”
O terceiro aviso diz respeito à má qualidade dos apartamentos. Se é verão, ninguém nota, mas quando faz frio e chove, “as casas têm pouco ou nenhum isolamento e a humidade passa com bastante facilidade. E também não têm isolamento acústico. Se reservar um quarto num bairro animado – você pode não dormir à noite.”
E é isto, o que eles dizem de Lisboa e arredores turísticos: Sintra e Cascais. É tudo muito bonito, mas o serviço é mau. E há demasiados turistas!
(fonte Nomadific)