O Sindicato de Jornalistas e Trabalhadores dos Media Russos (JMWU, na sigla em inglês), acaba de ser extinto por decisão de um tribunal de Moscovo.
Esta associação sindical tem uma história repleta de conflitos com o Estado. A situação complicou-se desde que foi aprovada legislação que restringe a liberdade de imprensa, nomeadamente na cobertura da guerra na Ucrânia. O sindicato JMWU passou a ser visto pelo poder como uma espécie de “santuário” da oposição, mas como qualquer sindicato que se preze, dedica-se à defesa dos jornalistas, nas questões do direito do trabalho e nas questões da liberdade de imprensa. O problema é que também não se coíbe de tomar posição pública contra a guerra na Ucrânia.
Na Rússia existe uma lei que proíbe a divulgação de notícias que descredibilizem as Forças Armadas. Ao defender jornalistas acusados de propagarem notícias que descredibilizam as Forças Armadas, o sindicato JMWU acabou por ser igualmente acusado desse crime.
Pelos mesmos motivos, o sindicato já antes tinha sido condenado a pagar uma multa de 500 mil rublos. Agora, talvez pela reincidência, a decisão jurídica é de extinção do sindicato.
Em maio passado, tudo se precipitou quando as instalações do sindicato JMWU foram vasculhadas pela polícia numa rusga inesperada. Logo de seguida, o Ministério Público entra com um pedido de extinção da organização sindical. A leitura da decisão do tribunal esteve marcada para o início de agosto, foi adiada até agora. A condenação não surpreende ninguém, tendo em conta as circunstâncias em que a Rússia vive e o passado de conflitos entre o JMWU e o Estado.
Logo em maio, o Sindicato dos Jornalistas portugueses protestou contra a opressão exercida sobre o sindicato JMWU e associou-se ao apelo feito às autoridades russas pelo Comité para a Protecção de Jornalistas e outros organismos internacionais de jornalistas, para que deixassem aquela estrutura sindical trabalhar livremente.
Conflitos entre organismos sindicais e de defesa da liberdade de imprensa com o estado russo não são novidade. Um outro sindicato de jornalistas, igualmente independente, denominado Sindicato Russo de Jornalistas (SJR), muito mais antigo que o JMWU, foi despejado das instalações que lhe tinham sido atribuídas, em 2007. O mesmo método de repressão foi utilizado contra outros dois organismos de defesa da liberdade de imprensa, o Centro para o Jornalismo em Situações Extremas e o Fundo de Defesa Glasnost. E não havia guerra na Ucrânia nem legislação castradora da liberdade de imprensa.