PSP e GNR, as condições de trabalho dão cabo de homens e mulheres

A morte do agente da PSP Élio Quinteiro destapou de novo uma ferida que nunca sarou: os suicídios nas forças de segurança, PSP e GNR. Razões, cada qual terá as suas. Mas se somarmos exploração laboral, salários baixos, bullying e desprestígio, estaremos próximos da verdade.

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Não existindo um padrão comum sobre o que leva ao suicídio, os Comandos e o Ministério da Administração Interna sempre fugiram às suas responsabilidades. Lembro-me de na GNR um Comandante Geral atribuir o suicídio ao baixo grau de instrução académica de quem o fazia. Uns dias depois suicidou-se uma mulher militar com mestrado em sociologia e caiu por terra aquela teoria.

O que é que leva jovens (por norma são jovens) a suicidarem-se e a forma como o fazem? A grande maioria nunca o faz durante o serviço, é no período de folga. Fardam-se e mesmo tendo outra arma, usam a arma de serviço. Porque o fazem dessa forma, que mensagem querem deixar? Talvez este ritual seja o padrão dos suicídios nas forças de segurança. E deixa algumas pistas, para quem as quiser ver.

Existem diferenças entre a vida na GNR e a PSP. A Guarda pratica a política de caserna. Isto é, agarra nos jovens GNR’s com residência no norte do país e coloca-os no Alentejo e Algarve, os do Sul colocam-nos no Norte do país. A GNR fornece alojamento e camaratas aos seus homens e mulheres nos Comandos e Destacamentos e, assim, rentabiliza a força de trabalho. A GNR consegue fazer muito, com muito pouco, porque tem os militares sempre disponíveis 24 sobre 24 horas. Na prática não há horários de trabalho porque mediante as ocorrências e mesmo que tenham acabado de sair de serviço, como estão a pernoitar nas instalações não se podem negar. A isto chamamos política de caserna. Mas resulta numa infindável sobrecarga de trabalho não pago sobre os militares da instituição. E o cansaço acumula-se.   

A PSP é diferente, são colocados inicialmente nas grandes cidades, longe do agregado familiar e não lhes é dado rigorosamente nada, nem instalações para dormir, nem messes onde possam fazer as suas refeições. Com salários muito baixos, os jovens polícias são obrigados a alugar quartos nas zonas mais degradadas e degradantes das cidades. Os 750€ não esticam e, por norma, há encargos familiares com os que ficaram na terra de origem. E por isso é frequente um agente da polícia ter um quarto ao lado do da prostituta, do proxeneta, do traficante. O salário mal chegaria para as despesas do dia-a-dia. Por isso é frequente, também, um agente da PSP ter outros empregos ou ser levado a aceitar os chamados “gratificados”. E o cansaço acumula-se. Como se isso não chegasse, ainda sofre diariamente bullying criminoso por parte da maioria das suas chefias… e isto ninguém quer ver, apesar de saberem que existe.

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