O programa “Portugal em Directo” (PD), transmitido pela RTP ao final da tarde, é um albergue espanhol onde cabe tudo, menos o que interessa a qualquer espectador minimamente preocupado em saber o que se passa no País real, no chamado Portugal profundo. Aquilo é uma mistura de notícias nacionais que podemos encontrar de hora a hora no canal 3, com notícias supostamente de interesse regional. Vistas as 4 edições emitidas a semana passada, rapidamente se conclui que o programa assenta em propaganda às autarquias e ao Governo. Até os órgãos de comunicação social regionais que colocam em antena, diariamente, estão encostados às respectivas autarquias.
O que a malta quer, na perspetiva dos responsáveis editoriais do “PD”, é conversa da treta. Tomemos como exemplo o alinhamento do programa de 5ª feira, dia 1 de Abril: 1- Plano de desconfinamento; 2- Dados COVID; 3- Máscaras obrigatórias; 4- Chamadas linha SNS 24; 5- Vacinação nos Açores; 6- Notícias Novum Canal (Penafiel); 7- Minuto Verde; 8- Navio colide com pilar na ponte 25 de Abril; 9- Compra de folha seca de canábis para fins medicinais; 10- Montesinho, aldeias sem emigrantes; 11- Madeira, quebra no turismo; 12- Algarve também sem turismo; 13- José Cid em directo para falar sobre o seu novo trabalho; 14- Aldeias do xisto esperam turismo; 15- IRS, corrida aos reembolsos; 16- Viseu, cabazes da Páscoa; 17- Sabrosa (freguesia) oferece cabazes da Páscoa; 18- Venda de vinhos online; 19- Rua de Nisa com barro empedrado; 20- Novo museu judaico em Lisboa; 21- Biblioteca de Évora renovada; 22- Teatro Micaelense celebra 70 anos; 23- 30 milhões para a Cultura; 24- Plano de desconfinamento; 25- Meteorologia. E pronto, meus caros, o País é isto. Quase uma hora e meia de informação, diariamente, em que não se dá por um problema no interior do País.
A RTP tem vários centros de produção regionais, bem equipados em termos humanos e materiais. Problemas e aspirações das populações, é como se não existissem. Aqui em Barcelos, por exemplo, assim de repente, sem qualquer esforço da carola, ocorrem-me vários temas a que o “PD” se poderia dedicar, com mais proveito e glória: o miserável negócio da água, ponto de situação relativamente às investigações da Polícia Judiciária na ACIB, o mesmo no que toca à actuação do presidente da câmara, perseguição a funcionários municipais e irregularidades e ilegalidades na área do urbanismo.
Se vocês aí no “PD” quiserem meter as mãos na massa, fica um conselho: solicitem à direcção de todos os órgãos de comunicação social regionais do País um exemplar de cada edição, com a garantia de que serão citados caso publiquem notícias com interesse nacional. Hão de verificar, se fizerem as coisas como deve ser, que ainda há muitos jornais locais que não estão encostados ao poder. De outra forma: por cada “Barcelos Popular” poderão surgir um ou mais “Jornal de Barcelos”, onde trabalha gente preocupada com a moralização e decência na vida pública. Ou seja, de repente, quase como que por magia, ficam confrontados com tantas notícias de interesse geral que até poderão dar-se ao luxo de ceder algumas ao Telejornal. Bem anda precisado. Tal como as coisas estão, sinto que o vosso “Portugal em Directo” é uma mistificação. Em vez de dar a conhecer o País, sufoca é o País. Já agora, por curiosidade – “Portugal em Directo”? Só se for por brincadeira. Directos, quase não se dá por eles. O actual “PD” faz-me recordar o “Teleregiões” de há 40 anos. Entre um e outro, venha o Diabo e escolha.
(Esta crónica também é publicada no Jornal de Barcelos).
Contactou o provedor do telespectador? e o centro de produção associado à sua zona? Acha que a perseguição de funcionários é um assunto de interesse geral para um programa de conteúdos regionais? E “negócios da água” não seriam para tratar noutro tipo de programas e que abrangesse até vários casos semelhantes? investigações da Polícia Judiciária na ACI não seriam para o “Sexta às 9”? Não sei qual era o seu problema com o “Teleregiões” de que o “Portugal em directo” é mais um sucessor.