A inspiração de Francisco Sá Carneiro nos jovens

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Nove anos depois da tragédia de Camarate, que vitimou o Primeiro-ministro e o Ministro da defesa da altura, nascia eu. Não o conheci, mas cedo comecei a admirá-lo. Cresci com os meus pais a falarem do “ Caso Camarate”. A minha mãe que na altura tinha 17 anos, vivia precisamente no Bairro de Angola, em Camarate, não viu acontecer o acidente, mas viu o fumo no ar e toda a confusão que rapidamente se instalou ali. Nunca Camarate tinha sido tão famoso e, nunca mais voltou a sê-lo. Infelizmente, a razão não foi a melhor.

Nesse infortúnio de 4 de dezembro de 1980, o país ficou em choque, assistindo incrédulo à morte prematura e inesperada de sete pessoas. O Primeiro-ministro, Francisco Sá Carneiro, a sua companheira, Snu Abecassis, o ministro da Defesa Nacional, Adelino Amaro da Costa, Maria Manuela, sua mulher, António Patrício Gouveia, chefe de gabinete de Sá Carneiro, e os dois pilotos do Cessna. Neste dia, não morria apenas o Primeiro-ministro, morria também uma história de amor e a inspiração aos democratas portugueses. O amor entre um homem bom, sério e justo e uma mulher culta e suave, como tantos a apelidam. Sá Carneiro era casado, bem como Snu Abecassis.

Snu, de origem dinamarquesa e casada com Vasco Abecassis vem viver para Portugal nos anos 60 quando decide fundar as Publicações Dom Quixote. Depois do 25 de Abril de 1974,  Snu, decide que é importante dar a conhecer aos portugueses o pensamento dos seus novos lideres. Edita livros de Mário Soares, de Álvaro Cunhal e de Francisco Sá Carneiro. Conheceram-se a 6 de janeiro de 1976 e desde então telefonavam-se e combinavam encontrar-se. Quem os conheceu, diz que foi amor desde o primeiro momento.

Sá Carneiro, além da sua ação politica, que é visto como um homem conciliador e catalisador, fica também conhecido pela historia de amor, controversa mas ao mesmo tempo intensa, apaixonada que viveu com Snu, rompendo com os cânones de uma sociedade preconceituosa.

Francisco Sá Carneiro teve um papel determinante no 25 de Novembro de 1975, que a par de Mário Soares e Diogo Freitas do Amaral, homens da política, já todos desaparecidos, mas também do General Ramalho Eanes, de Jaime Neves e de Salgueiro Maia, travaram o radicalismo de esquerda que mergulhava Portugal no pós 25 de abril de 74.

Cresci a ouvir falar de Francisco Sá Carneiro, como o exemplo da social-democracia que tanta falta faz a Portugal. Um homem bom que olhava para as questões sociais com preocupação e que ao contrário do que hoje se pratica, no lugar de dar o peixe, dava a cana e ensinava a pescar.

E hoje, 40 anos após a sua morte, Portugal atravessa uma crise inigualável, que para lá da pandemia que vivemos e da crise económica do passado, vive há muito uma crise de valores. O respeito pela democracia e pelos cidadãos foi há muito posto em causa e esquecido. Hoje, procura-se viver em nome das ambições pessoais, quando deveríamos procurar viver em nome da democracia e de um Portugal melhor. 

Faz 40 anos que Portugal viu ser assassinado o seu Primeiro-ministro. Oficialmente pela Justiça nunca houve provas para conseguir acusar alguém. Pela política, nas várias comissões que existiram, havia margem para levar avante um processo judicial. Mas pela opinião pública, essa, fez há muito o seu julgamento, Francisco Sá Carneiro foi assassinado naquele dia.

Francisco Sá Carneiro era um homem de paixões. Tinha 3 que não poderemos esquecer: o amor a Portugal e o seu importante contributo na construção de uma Democracia estável e segura, o amor pela política e pelo Partido Popular Democrático e claro, a sua grande paixão por Snu Abecassis. Era um homem bom e como todos os homens bons, fazia sombra aos poderosos.

Acredito que se tivesse vivido mais anos e que se tivesse tido oportunidade, Portugal, seria hoje um país diferente. E eu teria sido militante do PPD. Obrigado Francisco, pelo seu contributo que hoje me permite livremente escrever este texto.

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