É chocante a notícia do cheque de 6,8 milhões de euros por dia, que a Europa nos vai dar a fundo perdido. Foi necessário a Alemanha precisar de dinheiro fresco, para o Banco Central Europeu desatar a oferecer dinheiro a todos os países da União. E a custo zero.
Ou seja, dinheiro não tem preço fixo, navega ao sabor dos interesses. José Sócrates tinha razão quando se riu da dívida impagável do País. E com tanta certeza do valor fictício do dinheiro que exagerou nos fatos e nos restaurantes.
Veio então Passos Coelho para repor uma ordem não necessária. E os portugueses pediram mil desculpas por terem comprado um plasma, uma varinha eléctrica e umas jantes para o automóvel velho parecer “racing”. Na contabilidade de Passos Coelho tínhamos de empobrecer e voltar a emigrar de mala de cartão. Tudo para nada. Ou melhor para dar liquidez aos Bancos que rogaram, à porta de cada partido, pelo resgate. Lembram-se? “Os pobres que paguem a crise” era a receita de Passos Coelho que até vendeu a estrangeiros os lucrativos CTT. Ainda hoje se ouvem laudas à suposta proeza de termos evitado um segundo resgate.
Razão tinha também Yanis Varoufakis, quando escreveu para a sua filha o livro “Quando a Desigualdade põe em risco o futuro”. São 186 páginas que se devoram num ápice. Ficamos a perceber que os mais-ricos querem ser mais ricos à conta de artifícios financeiros. Não estão preocupados com a economia. Não querem produzir bens úteis e acessíveis a todos e dar conforto aos povos. Querem apenas ser ricos e ter torneiras de ouro.
Desta vez, o Banco Central enviará, sem custos, todos os meses, 204 milhões de euros para Portugal. E muito mais para a Alemanha, França e Itália. A economia não pode parar, para não faltar comida e trabalho aos europeus, a começar pelos alemães, que são uns grandes comilões. Depois logo se verá. Porque a verdadeira questão é a sustentabilidade dos recursos do planeta e em especial, para nós, do espaço europeu.
Daqui a 12 meses terão chegado ao nosso País 2450 milhões de euros em tiras papel ou por números no computador.
Afinal quando Passos Coelho e Cavaco Silva zurziam os portugueses, era tão só uma casmurrice do homem que “raramente se enganava e nunca tinha dúvidas”. Andámos chocalhados. E a ouvir os impropérios de comissários europeus que nos acusavam de gostarmos de gastar dinheiro em meninas e vinho tinto. Fomos enganados, espremidos e alguns soltaram dolorosos “ais” de fome.
Fernando Ulrich, o banqueiro que veio do Expresso, ficou célebre com a sua crueldade. “Ai aguentam, aguentam”. E afinal aguentámos o quê? A recapitalização dos bancos, que durante anos compraram tudo, de seguradoras a agências de viagens. E agora? Agora riem-se. Um deles não sabe de 4 500 milhões de euros. O outro vendeu o Banco aos Catalães. O outro foi juntar-se ao Partido Comunista Chinês.
E nós?
Os muito-ricos continuam com os negócios de família. Os assim-assim do apartamento na Lapa ou em Odivelas tornaram-se ferozes capitalistas. Os restantes nem dão por nada, porque vivem para o trabalho, com o coração no futebol e as esperanças em Fátima.
Afinal mais-zero-menos-zero tanto faz. Importante é não parar a Economia. Que depois transvasa nas Finanças. Para depois alimentar os Mercados, que têm por detrás a mão dos muito-podres-de-rico. Daqui a 12 meses vamos ver se José Sócrates não volta a rir. Tal qual o José Berardo na Assembleia da República.
Os pobres que paguem as crises.
Gosto do rigor e frontalidade dos seus texto e mais ai da do seu carater humanista. Obrigado
Muito obrigado.