Israel declarou, de forma unilateral, a anexação de toda a Cisjordânia, sem referendo e sem consulta aos palestinianos. O parlamento israelita, vulgo Knesset, dominado por sionistas, aprovou a 23 de julho de 2025 uma resolução de anexação desses territórios, por 71 votos a favor e 13 contra, numa assembleia com 120 parlamentares.
A resolução declara o território como parte da “pátria histórica, cultural e espiritual do povo judeu” e reivindica que Israel aplique ali a sua soberania plena – anulando, na prática, o estatuto de ocupação militar.
Hoje, cerca de 3 milhões de palestinianos vivem na Cisjordânia, enquanto lá residem aproximadamente 500 mil colonos israelitas (dados de julho‑agosto de 2025). Claro que a ocupação humana será feita, agora, rapidamente e em força.
Após o Knesset ter votado a favor da anexação da Cisjordânia, os ataques das forças de ocupação israelitas e dos colonos armados intensificaram-se, invadindo localidades palestinianas, queimando casas e veículos, roubando gado, demolindo casas e despejando à força famílias para tomar posse das suas propriedades. Está a acontecer agora, enquanto escrevo…
Moscovo e Pequim também apresentam justificações históricas para reivindicar territórios. A Rússia anexou a Crimeia e ocupou o Donbass. A China prepara-se para reaver Taiwan. Se Israel consegue anexar com argumento na força militar e laços culturais, sem consequências nem sanções, sem qualquer afrontamento da comunidade internacional, como vão agora os inimigos da Rússia e da China pretender rejeitar outras anexações?
O Ocidente condena a Rússia e a China, agitando a bandeira do direito internacional. Mas no caso israelita, a anexação é aceite, tolerada ou ignorada. Quando o direito internacional é aplicável apenas aos inimigos e dispensado aos aliados, deixa de ser direito e torna-se instrumento de poder.
E estamos apenas a olhar para os casos mais evidentes, mas o mundo está cheio de disputas territoriais por sanar, fronteiras duvidosas, algumas artificiais deixadas pelo colonialismo, além de territórios há muito ocupados e que, depois disto, poderão ser de novo reivindicados por antigas potências.
LIDERANÇAS QUE NÃO PRESTAM
71 deputados sionistas e da extrema-direita israelita acabam de abrir uma caixa de Pandora. Não vai ser possível continuarmos a falar da chamada “força da lei” porque a lei da força já foi institucionalizada. O dito Ocidente comete uma espécie de suicídio moral e ético, por conivência com os interesses de Israel e obediência aos EUA.
O silêncio e a inconsciência política corroem a credibilidade do Ocidente para defender a integridade territorial da Ucrânia ou o direito de autodeterminação de Taiwan. Não há nada a que se possam agarrar, a não ser a guerra.
Perante isto, tudo indica que os Estados europeus e os EUA não foram apanhados de surpresa pela decisão de Israel. Eles sabiam e concordaram, só assim se compreende a inércia de uns e a venda de armamento a Israel de outros, ao longo de mais de 2 anos de genocídio dos palestinianos e o surgimento “ocasional” de vários discursos de dirigentes da NATO a anunciar a guerra contra a Rússia e a China, dentro de algum tempo. Os 5% do PIB para armamento não foram inventados por acaso. Precisamos urgentemente de outras lideranças, porque estas que temos não prestam.



