Documento multi-biográfico, relata a dolorosa experiência de uma mãe que perde um filho, mostrando uma introspectiva caminhada pelo silêncio enquanto comprova, mais uma vez, que só o Amor nos pode salvar. E, para Isabel Allende, a escrita também.
A morte de Paula foi chegando com um passo leve e enquanto vinha, caía sobre uma mãe derrotada, rebentada de tristeza por dentro. Perdida, sem saber quem é, tentando lembrar-se de quem era antes da filha morrer, apenas encontra disfarces, máscaras e imagens difusas de uma mulher que deixou de reconhecer. Paula deu à autora a oportunidade de se olhar por dentro e descobrir esses espaços interiores, vazios e obscuros que nunca antes tinha explorado.
Pode a descoberta dos nossos lugares sagrados surgir associada aos momentos mais duros da nossa vida, quando o Inverno se entranha nos ossos?
Enquanto escreve este livro, Isabel Allende recorda toda a sua vida, os amores, a escrita dos seus romances, a literatura, todas as ténues cicatrizes de risos e prantos do passado. Parece que quanto mais profunda é a ferida, mais recatada tende a ser a dor. O estado de coma e a posterior partida da filha só foram minimamente apaziguados porque existiu a escrita, esse tempo a sós com as palavras, esse tempo mágico, essa hora dos bruxedos, a única coisa que nos salva quando tudo à volta ameaça ruir…
Allende deixa-nos esta vibrante certeza: tanto a vida como a morte são feitas da mesma matéria. E a única recordação que porventura levamos na viagem é a memória dos amores que deixamos. Talvez estejamos no mundo para procurar o amor, encontrá-lo e perdê-lo, várias vezes. A cada amor voltamos a nascer e com cada amor que acaba abre-se uma chave.
Morremos cheios de orgulhosas cicatrizes… E talvez todos devêssemos escrever a tal carta “Para ser aberta quando eu morrer”.
Fica esta mensagem a reter: nos momentos mais desesperados, quando todas as portas se fecham e nos sentimos prisioneiros num beco sem saída, sempre se abre uma estreita passagem inesperada pela qual podemos sair.