Os meninos que foram esquecidos…

Ou, afinal, parece que não! Um espectáculo agora os recordou, na Academia de Artes do Estoril, no passado dia 8, pela Tokyo Opera Association, dirigida por Edward Ishita.

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A ópera – com música de Minao Shibata – tem, na verdade, o título de The Forgotten Boys e foi levada à cena no Auditório Carlos Avilez, numa co-produção do Instituto Gregoriano de Lisboa (actuou também o seu Coro Juvenil, dirigido pela maestrina Filipa Palhares), da Fundação D. Luís I e da Câmara Municipal de Cascais. O evento teve o apoio da Embaixada do Japão, de T A e de Vila Galé (Sociedade de Empreendimentos Turísticos, S. A.), e integrou-se no 50º Festival Estoril Lisboa.

Chamavam-se Mancio Iyo, Miguel Chijiwa, Julião Nakaura e Martinho Hara esses quatro jovens cristãos japoneses que chegaram a Lisboa em 1584. Vinham acompanhados pelo padre jesuíta Diogo de Mesquita, mas o Padre Nuno Rodrigues, procurador da Índia, fez questão de desembarcar em Cascais, a fim de mais depressa chegar a Lisboa e anunciar a chegada, que, segundo narram as crónicas, causou o maior alvoroço:

«Foi mui grande o alvoroço e alegria que todos receberam com tais novas e muito maior a consolação que tiveram com a vista daqueles meninos, por serem novas plantas semeadas e regadas com o suor e trabalho dos Padres e Irmãos de Japão, trazidos e transplantados agora à Europa».

Seriam eles, depois, os que, no regresso, iriam contar as maravilhas que tinham visto com os próprios olhos.

Visitaram a capital, extasiaram-se à vista do Mosteiro dos Jerónimos, encantaram-se com as belezas de Sintra, Cascais, Évora e Coimbra, sempre recebidos em ambiente de festa, porque, inclusive, os singulares e exóticos trajos tradicionais que vestiam despertaram a maior admiração.

Daqui seguiram para Espanha e Itália, sendo recebidos, na Santa Sé, pelo Papa Gregório XIII.

Esse, o tema da ópera a que se fez referência.

– Gostámos muito da Ópera – confidenciou-me o Dr. Jorge Santos, eminente melómano. – Diferente da clássica, mas interessante pelo exotismo e o tema. A história emocionou-me pela coragem e curiosidade dos marinheiros descobridores nossos antepassados. O início da primeira (?) globalização.

E continuou, em jeito de reflexivo comentário:

– De facto, a vida humana é sempre uma viagem no tempo animada por curiosidades, fragilidades, aprendizagens, proximidade e convívio entre os povos, respeito pelas tradições… Vimos de Deus e para Ele voltamos. Somos embaixadores uns dos outros. Emocionante o grito de amor a Jesus Cristo que os portugueses deram a conhecer ao Oriente.

Do espectáculo em si, não quis deixar de sublinhar que vivamente o impressionara «a voz profunda e sonora do “baixo”».

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