A ópera – com música de Minao Shibata – tem, na verdade, o título de The Forgotten Boys e foi levada à cena no Auditório Carlos Avilez, numa co-produção do Instituto Gregoriano de Lisboa (actuou também o seu Coro Juvenil, dirigido pela maestrina Filipa Palhares), da Fundação D. Luís I e da Câmara Municipal de Cascais. O evento teve o apoio da Embaixada do Japão, de T A e de Vila Galé (Sociedade de Empreendimentos Turísticos, S. A.), e integrou-se no 50º Festival Estoril Lisboa.
Chamavam-se Mancio Iyo, Miguel Chijiwa, Julião Nakaura e Martinho Hara esses quatro jovens cristãos japoneses que chegaram a Lisboa em 1584. Vinham acompanhados pelo padre jesuíta Diogo de Mesquita, mas o Padre Nuno Rodrigues, procurador da Índia, fez questão de desembarcar em Cascais, a fim de mais depressa chegar a Lisboa e anunciar a chegada, que, segundo narram as crónicas, causou o maior alvoroço:
«Foi mui grande o alvoroço e alegria que todos receberam com tais novas e muito maior a consolação que tiveram com a vista daqueles meninos, por serem novas plantas semeadas e regadas com o suor e trabalho dos Padres e Irmãos de Japão, trazidos e transplantados agora à Europa».
Seriam eles, depois, os que, no regresso, iriam contar as maravilhas que tinham visto com os próprios olhos.
Visitaram a capital, extasiaram-se à vista do Mosteiro dos Jerónimos, encantaram-se com as belezas de Sintra, Cascais, Évora e Coimbra, sempre recebidos em ambiente de festa, porque, inclusive, os singulares e exóticos trajos tradicionais que vestiam despertaram a maior admiração.
Daqui seguiram para Espanha e Itália, sendo recebidos, na Santa Sé, pelo Papa Gregório XIII.
Esse, o tema da ópera a que se fez referência.
– Gostámos muito da Ópera – confidenciou-me o Dr. Jorge Santos, eminente melómano. – Diferente da clássica, mas interessante pelo exotismo e o tema. A história emocionou-me pela coragem e curiosidade dos marinheiros descobridores nossos antepassados. O início da primeira (?) globalização.
E continuou, em jeito de reflexivo comentário:
– De facto, a vida humana é sempre uma viagem no tempo animada por curiosidades, fragilidades, aprendizagens, proximidade e convívio entre os povos, respeito pelas tradições… Vimos de Deus e para Ele voltamos. Somos embaixadores uns dos outros. Emocionante o grito de amor a Jesus Cristo que os portugueses deram a conhecer ao Oriente.
Do espectáculo em si, não quis deixar de sublinhar que vivamente o impressionara «a voz profunda e sonora do “baixo”».
