AZEITE DE LUXO

Uma cliente do Pingo Doce ficou escandalizada com o preço do azeite. “O ano passado o azeite Moura passou de 24 € para 33,79 €… depois desapareceu do mercado durante meses, hoje encontrei-o à venda no Pingo Doce por 55,99 €. Não tenho palavras.”

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O preço do azeite está a subir há já mais de um ano. Em 2023, o aumento foi de cerca de 70% em relação ao ano anterior. E continua a subir.

Se Portugal produz azeite mais do que suficiente para o seu próprio consumo, porque é que os preços estão a subir tanto? Para que servem olivais intensivos a perder de vista?

Estamos acostumados a sofrer às mãos das empresas de distribuição alimentar. Compram barato ao produtor e vendem caro ao consumidor. No caso do azeite, talvez não seja o caso. Os grandes produtores de azeite são, hoje, empresas multinacionais do setor agroindustrial. Costumamos dizer que os espanhóis compraram o Alentejo para lá plantarem olivais imensos. Olivais regados, que devem gastar boa parte da água do Alqueva, a julgar pela dimensão das áreas de regadio.

Transformaram a oliveira, uma espécie arborícola resistente à seca, numa nova espécie produtora de azeitona, uma espécie de “vaca leiteira de raça apurada”, mas que precisa de ser regada para produzir muito.

E é aqui que parece estar a razão do aumento de preço do azeite. É que em Espanha tem havido seca severa e a maior parte do olival não é de regadio. Por isso, o azeite produzido em Portugal acaba por ir para Espanha ou é comercializado pelos produtores espanhóis que precisam de alimentar os seus mercados tradicionais espalhados pelo mundo. Isso faz com que haja menos azeite disponível em Portugal. E o aumento de preço será a consequência.

Pode ser isto que acabámos de explicar, ou pode ser a tradicional ganância de quem aproveita as circunstâncias para engordar contas bancárias.

A verdade é que de 24 € o garrafão de 5 litros, o mesmo garrafão desta marca de azeite passou para quase 56 €, um aumento a rondar os 135%, em dois anos. É o azeite a ficar só para ricos.

1 COMENTÁRIO

  1. Mais um escândalo, o preço do azeite “bom”. Não sei se continua a sê-lo (esta marca) porque tenho feito outras opções.
    Atrevo-me a sugerir ainda mais razões, para juntar a estas do texto, uma delas o tal abandono das zonas rurais, em termos de acesso e desmantelamento de estruturas de apoio, que impedem o aproveitamento dos recursos das regiões, como a extracção do azeite.
    A desactivação dos velhos lagares…como moer a azeitona sem eles? Mas antes disso, quem faz a colheita, se nessas terras só fica uma população envelhecida?
    Numa região da Beira Baixa que bem conheço, as oliveiras produzem um fruto de excelente qualidade que se perde pelo chão. Em tempos os proprietários cediam-no aos apanhadores interessados, em troca de uns garrafões de azeite. O lagar era a parte activa da permuta acordada entre donos das árvores e os que se curvavam para uma missão difícil.
    Hoje os frutos ficam à mercê de quem os quiser, ou até de animais engordados dessa forma natural, ou acabam por se degradar.
    Há anos sugeri “milícias” sem espondilose, mas bem armadas de garra e vontade de dividirem o produto da apanha. É que eu gosto de azeitonas e bom azeite! Chamaram-me utópica e coisas ligeiramente piores…
    Foi pena…é pena perder-se esta riqueza por falta de organização política, local e nacional. Sim, em tempo de campanhas eleitorais nunca se perde em repetir: votem em quem preserva o que é nosso e vale a pena.

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