Todas as atividades humanas produzem lixo. A acumulação de lixo produz poluição. E de todas as atividades humanas, a guerra é das mais porcas. Por todas as razões que se possam invocar.
Há quem tenta dar um aproveitamento ao desperdício das batalhas, 90% ferro-velho resultante do armamento inutilizado, dos invólucros de munição, capacetes e toda a parafernália militar destinada a causar morte e destruição.
Já encontrei quem derretesse esse ferro-velho para o transformar em bonitos candeeiros de sala. Mas era uma transformação radical, apagava a memória do sofrimento que todas as batalhas provocam.
É o que faz, também, o ourives cambodjano Thoeun Chantha, órfão da guerra que dilacerou o país na década de 70 do século XX, quando os EUA intervieram para travar o comunismo naquele país asiático.

Thoeun Chantha compra invólucros de latão de balas das AK-47 e M-16, derrete-os e faz joias. Depois de derretido, o metal é moldado artesanalmente em pulseiras, colares, anéis e brincos intrincados para serem vendidos à peça em mercados populares e pontos turísticos. A maioria dos compradores são turistas americanos. De certa maneira, o ourives cambodjano está a devolver à América o lixo da guerra que eles alimentaram.
Os tronos e as máscaras
Em Moçambique, Gonçalo Mabunda faz o mesmo, mas não apaga a história. As inquietantes esculturas totémicas de Gonçalo Mabunda exploram a história política de Moçambique, a longa guerra civil que sangrou a sociedade durante 15 anos.
Conheci Gonçalo Mabunda em Maputo e entrevistei-o no seu atelier. Vejam o vídeo.
As peças mais icónicas deste artista são os tronos e as máscaras. Tudo feito com os detritos da guerra que, assim, são espalhados pelo mundo como uma mensagem urgente pela paz.
