A verdade é que a alteração do poder nos Estados Unidos se tornou a chave-mestra para o futuro da Europa, ou melhor da União Europeia, enquanto potência relevante num espaço multipolar em que a China e os Estados Unidos tentam assumir o controlo do Mundo.
Trump, que nunca gostou da Europa nem da democracia liberal que vai subsistindo no espaço europeu, usa a ‘guerra comercial’ e este plano de paz para impor um forte domínio dos Estados Unidos, vergando a Europa, numa tentativa de desagregação do bloco europeu, com o claro intuito de acentuar a vertente bipolar do Mundo, reduzido a duas esferas de influência: a China e os Estados Unidos.
A administração norte-americana sabe que a Europa tem líderes fracos, sem competência, sem carisma, amarrados aos conceitos do ‘politicamente correcto’, reféns de grupos de interesses e de pressão, desligados da realidade em que vive a grande maioria dos cidadãos, com graves problemas sociais e sem capacidade para encontrar soluções que impeçam o deslace das sociedades.
A Europa, na ânsia de alargar o seu espaço de influência, escancarou as portas a alguns dos Países que nasceram com o desmembramento da União Soviética, mas que estão longe do conceito de democracia liberal que existe nos Países da União Europeia, o que acabou por gerar fortes tensões numa situação de grave crise, como foi a que resultou da invasão da Ucrânia. Estes países elegeram governos conservadores, próximos da Federação Russa, ou seja, alguns países que são parte integrante da União Europeia, com direito de veto que pode condicionar as acções e as políticas europeias, estão mais alinhados com a Federação Russa do que com a União Europeia, o espaço económico e político em que, num determinado momento do seu percurso, escolheram integrar.
Este ‘plano de paz’, a ser verdadeiro e a ser aceite pelos europeus, traduz-se numa profunda derrota para a liderança europeia, que se ‘rende’ aos Estados Unidos, perde influência e deixa de contar na cena Mundial.
Por outro lado, vai dar força aos que colocam em crise uma Europa forte, num Mundo multipolar, num espaço de liberdade e de democracia, reforçando os que querem uma Europa autocrática, dividida, com dois centros de poder, um em Pequim e outro em Washington.
Esta ‘paz’ na Ucrânia, num quadro de reforço de posições autocráticas, com líderes europeus fracos, vai acabar com as democracias liberais, com o estado de direito e com os Direitos, Liberdades e Garantias, tal como são entendidos desde a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, que lançou as bases dos direitos naturais e imprescritíveis como liberdade, propriedade, segurança e resistência à opressão. Estes princípios definiram a transição do absolutismo para a soberania popular e o Estado de Direito, com o predomínio da lei e do conceito de igualdade perante a lei e da separação dos poderes.
É claro que tudo está em aberto, dependendo dos ‘humores’ de Trump, fundamentalmente da realização dos seus interesses económicos, o que comprova a fragilidade da liderança europeia.




