O relatório final sobre o acidente do elevador da Glória no dia 3 de setembro deverá ser tornado público daqui a um ano. Será o tempo necessário para se concluírem investigações, mas é o tempo ideal para a culpa morrer solteira, pelo menos em termos políticos.
Segundo a nota informativa divulgada pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e AcidentesFerroviários (GPIAAF), as razões da avaria que levou à morte de 17 pessoas são uma espécie de “bruxedo”. O cabo de aço responsável pelo vai-e-vem das duas cabines do elevador quebrou, apesar do sistema mecânico estar “lubrificado e sem anomalias aparentes”.

Os dois técnicos do GPIAAF que efetuaram a inspeção no local do acidente garantem que o cabo tem uma carga de rotura de 68 toneladas e que este tipo de cabo estava a ser utilizado no elevador já há seis anos, sem problemas detetados.

O cabo terá uma vida útil de 600 dias e estava sensivelmente a meio desse tempo. O GPIAAF diz, ainda, que a manutenção do equipamento estava em dia e que, na própria manhã do acidente, teria sido efetuada uma “inspeção visual”, nos termos do contrato em vigor entre a CARRIS e a empresa contratada para a manutenção. Uma inspeção inútil, incapaz de detetar os sinais de alarme que pudessem ter evitado o acidente, uma vez que “a zona onde o cabo se separou não é passível de visualização sem desmontagem”, diz a nota do GPIAAF.
A nota dos investigadores apenas acrescenta que todos os sistemas de segurança falharam. Não são apresentadas razões para tal. O Ministério Público está a investigar e o GPIAAF tem o dever de colaborar nas investigações. Mas ficámos a saber que tudo vai ser feito com calma, sem pressas. Para já, o que temos, é o habitual “azar dos diabos” que sempre serve para calar protestos e desconfianças.

NR: outros artigos do mesmo autor: Carlos Narciso, autor em Duas Linhas



