SNS NAS RUAS DA AMARGURA

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O sistema está a colapsar e o Governo faz pouco para evitar o descalabro total. Enquanto foram oposição, os partidos do atual governo criticavam as falhas do SNS como sendo da culpa do governo daquele tempo. Mas, agora, não sabem fazer nem melhor nem diferente.

O utente Pedro foi há dias a uma urgência hospitalar. Tinha um problema numa pálpebra onde um quisto sebáceo infetado estava a sangrar. Foi tratado, medicado e mandado para casa. Disseram que provavelmente teria de ser sujeito a uma pequena cirurgia para retirar o quisto, mas que para tal teria de ser encaminhado para uma consulta de oftalmologia pelo centro de saúde.

Este utente ficou há anos sem médico de família que se foi embora e nunca foi substituído. Pediu uma consulta no centro de saúde. Disseram-lhe que ia demorar algum tempo, que “estavam agora a chamar utentes com consulta marcada para março” (com 7 meses de atraso). No entanto, como seria um caso com alguma urgência, talvez não tivesse de esperar tanto tempo.

A consulta, entretanto, já foi marcada e adiada mais do que uma vez e não irá acontecer antes de dezembro. Em alternativa, foi dito a este utente do SNS que poderia ir às 8 da manhã, durante a semana, tentar lugar na chamada “consulta do dia”, com senhas atribuídas por ordem de chegada. Ou seja, terá de ir para a fila por volta das 6 da manhã (na rua, ao frio ou à chuva, em pé), se quiser ter alguma hipótese de consulta da parte da tarde.

fila num Centro de Saúde no concelho de Sintra

Outro caso de um utente que ficou igualmente sem médico de família. Pessoa já com mais de 65 anos, toma vários medicamentos para doenças comuns em pessoas da sua idade: tensão arterial, colesterol alto, entre outras. É certo que os mais velhos têm uma “dieta” de comprimidos que acompanha todas as refeições do dia.

Mas não basta ter acesso às pilulas. Os problemas de saúde crónicos têm de ser acompanhados. Muitas vezes a medicação precisa de ser atualizada, alterada, melhorada, consoante a evolução dos problemas e a idade das pessoas. Sem médico de família, não há como ter esse acompanhamento, a não ser que as pessoas tenham possibilidade de recorrer a médicos privados ou a seguros de saúde.

A única maneira de evitar cancros da próstata, ou da mama, por exemplo, é ter acompanhamento médico que, além da medicação, marque análises, radiografias, e perceba se os problemas evoluem de modo a exigir o encaminhamento para uma consulta da especialidade no hospital. Seria assim que um SNS a sério deveria funcionar. É um esquema simples, mas são precisos médicos nos centros de saúde.

O colapso dos centros de saúde é dramático para a população. Contribui para mortes precoces, quando doenças tratáveis se tornam mortais por falta de médicos. O problema do SNS não está nas urgências, mas nos centros de saúde.

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