Há segredos que não servem para proteger a segurança de um país, mas a impunidade dos poderosos. O caso Jeffrey Epstein é um desses labirintos em que a verdade parece estar sempre a um documento de distância – e onde cada nova revelação levanta mais perguntas do que respostas.
Nos últimos dias, o Comité de Supervisão da Câmara dos Representantes dos EUA, controlado pelos democratas, divulgou uma série de emails trocados por Epstein com figuras do seu círculo próximo. Num deles, o falecido milionário refere que Donald Trump “passou horas” na sua casa com uma das vítimas de tráfico sexual.

Noutra mensagem, afirma que o ex-presidente “sabia das raparigas” e chegou a pedir a Ghislaine Maxwell (sócia e namorada de Epstein) que “parasse”.

Há mais emails, mas talvez estes dois sejam os mais “interessantes” para percebermos o peso das suspeitas que envolvem o Presidente dos EUA.
Os democratas do Comité de Supervisão da Câmara dos Representantes afirmaram que os emails e mensagens divulgados, selecionados entre mais de 23 mil documentos recebidos pelo Congresso, levantaram novas questões sobre a relação entre os dois homens. “Quanto mais Donald Trump tenta encobrir os arquivos Epstein, mais nós descobrimos. Esses e-mails e correspondências recentes levantam questões evidentes sobre o que a Casa Branca está a esconder e a natureza da relação entre Epstein e o presidente”, afirmou na televisão Robert Garcia, deputado democrata da Califórnia, membro do Comité de Supervisão.

A Casa Branca reagiu como seria de esperar: negou tudo, acusou os democratas de difamação e afirmou que os emails foram divulgados “fora de contexto”. É o guião habitual — negar, relativizar e atacar quem levanta a suspeita.
O que está em causa, porém, é mais do que o conteúdo de uma correspondência: é o pacto de silêncio que continua a proteger Donald Trump e a opacidade em torno dos chamados Epstein Files. O Congresso recebeu mais de 23 mil documentos, mas apenas uma pequena parte foi tornada pública. E essa parte já é suficiente para perceber que há muito que ainda não veio à superfície.
Nos Estados Unidos, a transparência é um valor proclamado, mas raramente aplicado quando o poder em causa é presidencial. Há um evidente duplo padrão: se fosse um congressista democrata a surgir nos emails de Epstein, as manchetes gritariam “escândalo”. Mas quando o nome é Trump, o noticiário vem acompanhado de cautelas semânticas e notas de rodapé.
Os “Epstein Files” são, por isso, menos um caso de moralidade e mais um espelho do poder. Mostram até que ponto um país disposto a julgar o mundo hesita em confrontar os seus próprios monstros. O silêncio em torno de Trump é político, calculado e cúmplice. E, enquanto o segredo continuar a ser o escudo dos poderosos, a verdade permanecerá refém de quem tem medo dela.



