Sempre disse que não era ministro, mas estava ministro. Homem de consensos, mas de levar a sua avante. Divertido. De resposta rápida. Enquanto ministro, mudou completamente o panorama do Direito em Portugal, tanto no Código Penal como no Direito de Menores, a que se dedicou muito especialmente. E de uma honestidade incomparável, bom entendedor do seu papel e também do papel do jornalista. Um homem que sabia escutar.
Pedi-lhe para passar um dia numa cadeia, sendo que eu aparecia de surpresa, quando muito bem me aprouvesse. Disse que sim. Uma madrugada liguei ao Álvaro Tavares, repórter-fotográfico do DN, e aparecemos no estabelecimento prisional. O guarda prisional da porta não sabia de nada. Ligou para o director da cadeia e lá entrámos, pelas 6,30 da manhã. Escrevi o que bem entendi, que não era propriamente abonatório para os serviços prisionais. Nunca o ouvi criticar o meu texto.
Num longo trabalho que elaborei sobre os meninos do Rossio percebi que os rapazes violados, do ponto de vista da Lei, eram somente agredidos porque não havia coito. Numa extensa reportagem critiquei a situação e referi ainda o artigo nº 2 da Lei da Violação, em que se falava da vítima contribuir para a prática do crime. No Ministério da Justiça, tivemos um aceso debate que durou uma tarde inteira. ‘Prove-me o que diz’. Várias reportagens no DN provaram a realidade e o prof. Figueiredo Dias, autor das mudanças legislativas, lá retirou o nº 2 e foram criados os crimes contra a autodeterminação sexual.
Há muitas histórias por contar. Histórias só possíveis por se passarem com um Homem Brilhante.
Morreu Álvaro Brilhante Laborinho Lúcio.



