50 ANOS DE DIPANDA*

0
171

Tinha grandes expectativas para o dia de hoje e pensava que seria um dia de verdadeira festa popular. Esperava encontar uma Luanda orgulhosa de um povo que, há cinco décadas, conquistou o direito de ser dono do seu destino.

Saí de casa por volta das 9h e caminhei até à marginal. As ruas estavam quase desertas, o trânsito cortado em várias artérias, e muitos militares e polícias patrulhavam a cidade. Ah, mas as ruas estavam limpas, e os contentores de lixo haviam sido despejados!

Nas janelas das casas não havia bandeiras nacionais, mas havia bandeirinhas comemorativas ao longo das principais avenidas. A música popular angolana não ecoava em cada esquina e as poucas crianças e jovens que circulavam na cidade não vestiam, nem vendiam, camisolas com o rosto dos heróis da independência. O Povo não estava na rua!

E, ainda assim, é impossível não sentir uma certa comoção ao caminhar pelas ruas e largos onde, exatamente cinquenta anos atrás, ecoaram os gritos de independência! Não vi uma celebração popular, unida e partilhada. Disseram-me que a festa do povo aconteceu ontem à noite, na última edição do Festival dos 50 anos da Independência de Angola — um festival que percorreu todas as províncias e culminou, no dia 10, em Luanda, com um concerto que reuniu milhares de pessoas.

Enquanto caminhava pela cidade — na nova marginal, na recentemente renovada Praça da República, sob o olhar tutelar do Memorial Agostinho Neto, acontecia o chamado “Ato Central” das celebrações do 50.º aniversário da independência nacional.

Os festejos oficiais foram reservados aos convidados: mais de 10.000 pessoas entre os participantes dos dois desfiles — o cívico, com representantes das 21 províncias, e o militar, envolvendo todos os ramos das forças armadas — além de convidados estrangeiros e representantes dos órgãos de soberania e demais convidados protocolares.

O Presidente proferiu um discurso breve, com menos de 30 minutos. Não falou sobre Portugal atual — nem era necessário — mas fez questão de lembrar que Angola foi “oprimida e escravizada durante séculos” e abordou alguns dos desafios presentes e futuros do país, como a educação e o incentivo ao investimento privado.

O “Ato Central” encerrou com a canção oficial das celebrações do 50.º aniversário da independência nacional, “Somos Angola – 50 Anos”. Confesso que não aprecio muito a letra — talvez porque um dos versos, “…é de Cabinda ao Cunene…”, me recorda o velho conceito de “…Portugal, do Minho a Timor…”.

Em 11 de novembro de 2025, Angola celebrou 50 anos de independência. Este marco histórico será um momento de reflexão sobre o longo caminho percorrido: das lutas de libertação e dos desafios da guerra civil, ao processo de reconciliação e reconstrução nacional e desenvolvimento.

Mas celebrar os 50 anos da independência não é apenas olhar para trás; Angola precisa olhar adiante, para os desafios que se desenham no horizonte: a luta contra a fome e a desigualdade, a diversificação da economia, a proteção do meio ambiente, a aposta na juventude — em suma, a urgência de justiça social.

Porque a independência não é apenas um marco no tempo — é uma travessia contínua, feita de coragem, memória e esperança. Ser independente vai além do ato político de conquistar a soberania; é construir, dia após dia, uma nação mais justa, mais livre e plenamente consciente do seu próprio valor e dignidade.

*”Dipanda” é uma palavra em kimbundu que significa independência, usada principalmente em Angola para se referir ao Dia da Independência, comemorado a de 11 de novembro. 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui