Declaro, sem rodeios, sem prólogo e sem modéstia diplomática, a mais profunda admiração por duas mulheres que iluminam a esquerda como quem acende faróis numa noite de apagão moral.
Eva Rapdiva e Nicole Jenes – duas mulheres que não pedem licença para existir, nem autorização para lutar. Duas mulheres que, num tempo de gritaria fascista e cinismo televisivo, respondem concretamente com solidariedade, firmeza e humanidade.
Eva, que entrou no Parlamento sem abdicar da rua que a fez. Chegou ao hemiciclo com o mesmo fogo que levava ao palco, onde rimava contra a violência do Estado e da sociedade como quem devolve dignidade aos que nunca tiveram voz.
Entre carteiras de deputados onde alguns só levantam a mão para confirmar preconceitos, é ela que resiste ao insulto, ao ódio reciclado como argumento político, à agressividade coreografada da extrema-direita.
E resiste não com a frieza dos burocratas, mas com a força de quem conhece os bairros, as mães esgotadas, os jovens atirados para margens que não escolheram.
Eva não debate – Eva defende.
Não argumenta – afirma.
E quando fala, muitos sentem, certamente pela primeira vez, que existem no país que também é deles.
Nicole, por sua vez, não precisa de assento parlamentar para fazer política. Faz política com o corpo, com a arte, com a coragem e com a recusa em desviar o olhar.
Se o mundo se habitua ao horror em Gaza, Nicole faz o oposto: amplia-o para que ninguém possa fingir que não viu.
Organiza ajuda humanitária como quem constrói pontes secretas entre povos.
E quando satiriza o genocídio imposto a um povo inteiro, fá-lo com a precisão de uma lâmina e a ternura de quem acredita que o riso pode ser também um acto de resistência.
Nicole é daquelas que devolvem humanidade à própria ideia de solidariedade.
Não posa – age.
E eu, que assisto de longe a este combate e a este amor, declaro que há aqui algo maior do que reconhecimento político: há uma admiração estética, ética – e sim, também amorosa. Porque abraçar mulheres como Eva e Nicole é amar a possibilidade de um mundo menos cínico, menos resignado, menos ajoelhado ao medo.
É acreditar que a esquerda ainda pode ser ternura organizada, raiva justa, poesia com consequências.
E digo isto como quem escreve um manifesto, mas também como quem escreve uma carta secreta: Eva e Nicole, vocês lembram-nos que a coragem é contagiosa, que a solidariedade é mais sexy do que qualquer pose de influencer, e que lutar pelos outros ainda é a mais bela forma de existir.
De vocês, Eva e Nicole, partilho as palavras de insubmissão, desobediência, da fraternidade que não floresce na neutralidade, mas no lado certo da história – mesmo quando esse lado está a perder. Especialmente quando está a perder.
Porque há pessoas de quem não se gosta apenas: milita-se por elas.




Assino por baixo, com todas as letras, o teu manifesto, Carlos! E que a Eva e à Nicole jamais falte a coragem. E para ti um abraço de parabéns pelo manifesto!