O Governo vai descentralizar uma parte da política de saúde e criar vice-presidentes exclusivamente dedicados a esta área na orgânica das cinco Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR). Esses dirigentes vão decidir sobre as grandes obras e planeamentos locais de saúde pública. Na prática, os presidentes das Unidades Locais de Saúde (ULS) passarão a tratar de alguns dos principais temas com o vice-presidente da CCDR da sua região, em vez de ser com dois organismos centralizados: a Direção Executiva do SNS e a Direção-Geral da Saúde (DGS).
Num quadro de intenções – hipócritas – de reforma da administração pública, com um ministro ‘faz de conta’, o governo, além de ter criado 89 grupos de trabalho, aumenta a confusão na gestão da saúde e do SNS, ao criar estes ‘ministrinhos’.
Mas tudo isto não passa de um jogo de sombras em que o governo, a mando dos interesses dos grupos privados da saúde, visa acabar com o SNS e entregar, numa bandeja de prata, a esses grupos, os hospitais públicos e os dezassete mil milhões do orçamento do Estado.
A estratégia até é simples, «simplória mesmo, canhestra», como o meu patrono gostava de chamar às habilidades dos saloios armados em espertos: lança-se a confusão na gestão do SNS, nomeia-se um ‘coronel’, para combater a corrupção e o desperdício (já agora alterem o Código Penal para integrar o ‘desperdício’ no catálogo dos crimes económicos) e cria-se a percepção de que a corrupção, com o aumento de denúncias anónimas, mesmo que infundadas, está por todo o lado a corroer o SNS. Depois vem a solução: este SNS está corrompido, incapaz de responder às necessidades dos portugueses (enchem com a boca com esta preocupação e abrem os bolsos para as prebendas expectadas) e, como tal, há que acabar como ele, erguer um novo serviço de saúde, transformar os hospitais públicos em PPP, numa fase inicial, e depois privatizá-los, transferindo o orçamento da saúde, hoje de dezassete mil milhões, amanhã logo se vê, para os grupos privados. O resto, tudo o resto, é conversa para enganar os tolos.



