Bernardino Machado nasceu no calor do Rio de Janeiro, em 1851, filho e neto de emigrantes portugueses. Aos nove anos, cruzou a primeira fronteira — o oceano— levando na bagagem as recordações de brincadeiras ao sol tropical e um sonho português: as colinas verdes de Joane, a terra natal do pai.
O pai de Bernardino, tendo feito fortuna no Brasil, juntamente com outros brasileiros de “torna-viagem”, investiu na sua terra de origem. Mandou construir o “Palacete dos Machados” em Vila Nova de Famalicão, segundo o estilo arquitetónico que ficou conhecido como “casa de brasileiro”. Foi nesta casa que Bernardino passou a sua juventude. No interior, os tetos trabalhados em estuque, incluíam pinturas que recordavam as paisagens tropicais brasileiras da sua infância.
Ambicioso, aos quinze anos, já estudava em Coimbra. Tornou-se o mais jovem catedrático de Filosofia da Universidade.

Mas Bernardino queria mais do que ideias: queria ação. Aos vinte e um, optou oficialmente pela nacionalidade portuguesa e entrou na política. Foi ministro, embaixador de Portugal no Brasil, o país que o viu nascer, e Presidente. Em cada função política que ocupou, Bernardino procurava romper fronteiras e aproximar mundos diferentes.
No princípio do século passado viajar — principalmente além-fronteiras — não era ainda uma rotina, incluindo para os chefes de Estado. Na jovem Républica Portuguesa, a primeira viagem oficial ao estrangeiro foi organizada pelo Presidente Bernardino Machado, em 1917, no contexto da participação portuguesa na I Guerra Mundial. Ele quis visitar o Corpo Expedicionário Português, e foi recebido também pelos chefes de Estado de Espanha, França, Reino Unido e Bélgica.
Num período em que os submarinos alemães constituíam uma ameaça à navegação, e em que viajar de automóvel era difícil, o comboio foi a escolha óbvia para a primeira viagem presidencial. O comboio presidencial, partiu do Rossio e atravessou a fronteira em Vilar Formoso, onde fez uma breve paragem, com grande pompa.
Mas a política é um terreno movediço. Bernardino duas vezes subiu à presidência; duas vezes foi derrubado. Exilado em França, voltou a atravessar a fronteira de Vilar Formoso e, ao mesmo tempo a linha invisível entre o poder e o esquecimento.




