25 DE ABRIL, SEMPRE

O livro do Almirante Martins Guerreiro intitulado A Marinha de 25 de Abril de 1974 a 25 de novembro de 1975 – As Sequelas Profissionais. Um libelo deveras contundente!

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Note-se, desde já, a assaz sugestiva capa, da autoria de Raquel Gil Ferreira, a bem interpretar o conteúdo do livro: ampla tesoura, a lembrar a da Censura, ameaça cortar o pecíolo do cravo de Abril. Aliás, «25 de Abril» está a branco, «25 de Novembro» a negro, como a negro está também o subtítulo «As Sequelas Profissionais».

Conta o volume, com dados documentais concretos, o que foi a perseguição perpetrada contra quantos, a maior parte das vezes sob o mero pretexto de serem comunistas, foram presos, mesmo tendo ativamente participado na Revolução de Abril. O lado negro do pós-revolução aqui posto a nu, consubstanciado no confronto entre os  que «procuravam acentuar as vertentes democráticas da cultura naval e os defensores da continuação do autoritarismo militar».

Merece a obra uma leitura muito atenta, mormente porque nela se transcrevem textos não especificadamente datados, mas onde se usa o presente do indicativo. É o caso da referência ao «Grupo dos 80», identificado como «grupo de pressão político-partidário, organizado, que vem exercendo de facto poder na Armada durante os mandatos dos Almirantes Augusto Souto Silva Cruz e António Egídio de Sousa Leitão» (pág. 91), cuja acção, especifica-se, «se tem desenvolvido nos seguintes campos: orientação e condicionamento das decisões da Administração; ocupação, actualmente quase total, dos principais cargos da Armada, incluindo os de ligação à NATO; combate radical, desde sempre, à Constituição em vigor; perseguição aos militares democratas da Armada».

Acrescenta-se: «Foi particularmente notado o à-vontade com que, no seio da Armada, propagandearam a candidatura do General Soares Carneiro e, ‘na certeza’ da sua vitória, deixaram entender que após esta se seguiria a grande eliminação dos oficiais, sargentos e praças constitucionalistas e democratas. Em contrapartida, fomentaram abertamente acções de hostilidade em relação ao General Ramalho Eanes, o qual ainda hoje e apesar de eleito é combatido por este grupo».

Por isso, conclui-se nessa mesma página 91, que «trazer à luz do dia» o dossiê dos abusos de poder documentados tem manifesta oportunidade, por justificar as razões do «crescente descontentamento que reina no seio da Armada».

Um livro que, nas suas 160 páginas, constitui um libelo, de que o que  se reproduz (p. 127-158) do Diário dos Presos Políticos no Forte do Areeiro de 4 a 24 de dezembro de 1975 será, sem dúvida, documento assaz eloquente.

recorte de uma página do Diário dos Presos Políticos no Forte do Areeiro de 4 a 24 de dezembro de 1975

Valerá ainda a pena reler, com atenção, a explicação, que se dá na segunda badana, acerca da propaganda que usou o “papão” do perigo de uma ditadura comunista no pós-25 de Abril para o combate político contra o MFA e os valores de Abril, explorando «o medo do desconhecido».

Assinala-se, em síntese, na contracapa, como, após o 25 de Novembro de 75, se registou uma «revanche sobre muitos dos elementos mais destacados do período revolucionário destruindo as suas carreiras».

A obra, publicada por Edições Colibri, teve a colaboração de Mário Simões Teles, José Aires da Silva, Fernando Caldeira Santos e António Possidónio Roberto.

No Salão Nobre da Casa do Alentejo, em Lisboa, foi apresentado na tarde do dia 11, o livro do Almirante Martins Guerreiro intitulado A Marinha de 25 de Abril de 1974 a 25 de novembro de 1975 – As Sequelas Profissionais.

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