O sádico sacana

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Sofia, usa calças de ganga, um colete preto ousado, botas pretas de cano alto. O cabelo, ruivo, está cortado bem curto. Está imóvel a olhar para o quadro que Van Gogh disse uma vez ter sido o mais feio que pintou, Le Café de nuit. Demora-se a reparar no quadro com as lâmpadas esborratadas de amarelo-torrado, a mesa de snooker mal dimensionada, os corpos sem vida por ali sentados. O vermelho que ali reina. Um olhar persistente fá-la desviar o olhar. Ele, cabelo branco, curto, roupa sóbria de marca, cerca de 50 anos, olha-a profundamente e acerca-se dela.

 – Só se pode amar este quadro – diz Paulo.

Sofia mantêm o silêncio e ar sério.

 – Desculpe a intromissão mas nunca vi antes alguém amar tão fortemente a angústia da noite. Chamo-me Paulo.

Sofia vira-se devagar.

 – A angustia da noite, sim. Chamo-me Sofia, ninguém pintou tão bem este ambiente, esta tristeza latente.

– Vamos fazer algo mais alegre? (pergunta Paulo)

 –  Desculpe?

 – Não me entenda mal Sofia, referia-me a oferecer-lhe um copo. Temos duas opções, o bar ali já ao virar da esquina, ou a minha penthouse ao virar do quarteirão! (Risos)

 – Onde perdeu?

 – Onde perdi o quê?

 – A vergonha e a boa educação?

 – Mil desculpas!

 – Ri-te, ri-te, no fim até choras.. diz a sabedoria popular. (Sofia faz um sorriso irónico).

 – Ok, vamos ao bar.

Penthouse de Paulo

Paulo acaba por convencer Sofia a optar pelo quarteirão e ir a casa deste. Serve-lhe uma tequila e traz na outra mão uma corda, uma máscara de cabedal e um chicote.

 – Para que é isso?

 – É para brincarmos à menina má. Com força, ata-lhe as mãos atrás das costas, coloca-lhe a máscara, Sofia não resiste.

 – Ah, gostas de brincar, diz Paulo e levanta o chicote.

 – A brincar a brincar foi o gato às filhó!

Solta-se num ápice da corda , da máscara e, num estilo Matrix atira-se a Paulo e põe-lhe a bota no pescoço, Paulo sangra pela boca. Sofia tira a bota de salto alto e diz:

 – Então brinquemos antes à menina mázona!

Aparece um podengo, pequeno, preto, a ganir pelo dono.

 – Que temos aqui?

Pergunta Sofia com um sorriso irónico e mexendo na chapa ao pescoço do cão.

 – Nery, nome tão lindo, Negro, como tu. É o amor da tua vida? Vamos brincar ao menino mau?

Põe as mãos à volta do pescoço de Nery que começa a ladrar, Paulo com muita dificuldade, grita:

 –  Não o mates, não o mates!

 Sofia olha para ele com um ar maquiavélico.

 – Cão que ladra não morde. Vou por-lhe esta coleira com um pequeno explosivo. Se fores à polícia, se falares com alguém, acredita que vou saber, há uma luz que acende aqui e Pum! Lá vai o Nery pelos ares! Ah, ah ah!

 – Não, não!

 – Sim, sim! Afinal, não gostas de dor? Esta é a tua! Sádico sacana!!!

(continua)

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