Perseguida pela Justiça angolana, Isabel dos Santos não se esconde. Quem quiser sabe por onde ela anda, com quem se encontra, o que veste, o que bebe, basta segui-la nas redes sociais. Aparentemente, a vida dela é de uma transparência surpreendente. Outros, no lugar dela, estariam calados que nem ratos, escondidos no Paraguay ou numa fazenda do Mato Grosso.
Isabel dos Santos vive no Dubai. Aparenta viver com desafogo. Apesar de já ter sido espoliada de uma boa parte do património angariado durante as décadas em que o pai foi Presidente de Angola, deve ter ainda um bom pecúlio guardado ou investido de modo seguro.
Por exemplo, no Dubai ela é proprietária de apartamentos de luxo, em sociedade com a mãe, uma senhora russa de nome Tatiana Regan. Segundo dados divulgados agora pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação – ICIJ – serão apenas dois apartamentos. Um deles serve de residência própria e o outro está alugado. Nada demais, se for só isto.
AS FONTES DE RENDIMENTO
Claro que são bons apartamentos, numa daquelas torres altíssimas que vemos nas fotografias do Dubai, virados para o mar do Golfo Pérsico e as marinas da cidade.
O apartamento mais pequeno tem apenas dois quartos, está situado no 31º andar do edifício Sadaf e foi comprado em 2009 por cerca de 163.000 dólares. Aos preços de hoje, uma pechincha. Hoje, no mesmo edifício, apartamentos semelhantes estão à venda por 570.000 dólares. O segundo apartamento fica no mesmo edifício, foi comprado em 2017 por 735.000 dólares. É o que está alugado.
Contactada pelo ICIJ, Isabel dos Santos disse que os apartamentos foram adquiridos com dinheiro que ganhou nos seus negócios e aparições públicas. Ficamos assim a saber que aparecer em determinados eventos é também uma fonte de rendimentos para a mulher que já foi a mais rica de África.
Isabel dos Santos argumenta que o pedido da Interpol com vista à sua detenção “foi emitido com informações falsas” fornecidas pelas autoridades angolanas. Que se trata de uma perseguição política e que as autoridades judiciais angolanas “fabricam provas falsas e não permitem que os tribunais sejam imparciais e independentes.”
O Ministério Público angolano já rejeitou alegações semelhantes proferidas ainda por José Eduardo dos Santos, depois de ter sido substituído na Presidência angolana. O gabinete do procurador-geral de Angola, Helder Pitta Gros, não respondeu aos pedidos do ICIJ para que comentasse sobre a presença de Isabel dos Santos no Dubai. Em 2020, Gros disse na rádio pública angolana: “Vamos usar todos os meios possíveis e ativar mecanismos internacionais para trazer Isabel dos Santos de volta ao país”.
Mas o Dubai continua a ser um porto seguro para Isabel.
OS VIZINHOS DE ISABEL
Na mesma investigação sobre as propriedades de Isabel dos Santos no Dubai, o ICIJ encontrou alguns “vizinhos” de má fama. A investigação encontrou vários criminosos condenados e perseguidos pelas autoridades de vários países, como é o caso dos membros de um cartel de drogas global ou da conhecida “Cryptoqueen” da Bulgária, uma das fugitivas mais procuradas pelo FBI.
O ICIJ divulgou que Caoimhe Robinson, a esposa do maior traficante de droga da Irlanda, Daniel Kinahan, comprou uma casa de 20.569 metros quadrados por cerca de 2 milhões de euros, situada num bairro nobre de Dubai. A moradia, ainda em construção, será apenas uma fatia do portfólio imobiliário local do casal.
No caso da “Cryptoqueen” Ruja Ignatova, fundadora da OneCoin, uma empresa de criptomoedas ligada a um esquema de pirâmide de proporções globais, com mais de 4 mil milhões de dólares em burlas, ela comprou uma casa pelo valor de 2,7 milhões de dólares, com vista para o arquipélago de Palm Jumeirah. A propriedade terá sido vendida recentemente e a “Cryptoqueen” desapareceu do radar.
Por mais ricos que os vizinhos de Isabel aparentem ser, ela não poderá saber das angústias que os consomem. Cada um sabe de si.