A Rússia manifestou interesse em explorar as reservas de bauxite da Guiné-Bissau (reservas estimadas em 113 milhões de toneladas) e em investimentos em grandes obras públicas como, por exemplo, a construção de uma ferrovia que ligue a Guiné-Bissau aos países vizinhos e a construção de um porto marítimo na região de Buba, no sul do país (um projeto antigo e sempre adiado da Guiné-Bissau).
Segundo declarações recentes do ministro dos Negócios Estrangeiros guineense, Carlos Pinto Pereira, as negociações com a Rússia tiveram início em fevereiro, quando o ministro dos Recursos Naturais da Guiné-Bissau se encontrou com o ministro do Ambiente da Rússia. Mais recentemente, foi o próprio Presidente Umaro Sissoco Embaló a liderar os contactos com a parte russa, quando se deslocou a Moscovo.
A visita do Presidente Umaro Sissoco Embaló à Rússia foi mais do que assistir aos festejos do Dia da Vitória. O Presidente guineense viajou por várias regiões da Federação, onde contactou os governantes locais e estabeleceu pontes para ações de cooperação no futuro.
No Tartaristão, Embaló, acompanhado pelo chefe da República, Rustam Minnikhanov, visitou Kazan, onde discutiram a participação da delegação de Bissau no KazanForum 2024.
Na Chechénia, o Presidente foi recebido por Ramzan Kadyrov, com quem acordou a formação de militares da Guiné-Bissau na Universidade das Forças Especiais Russas.
O Presidente guineense procura novos parceiros que contribuam para o desenvolvimento do país. Os Estados membros da Federação Russa são uma boa possibilidade de cooperação vantajosa para a Guiné-Bissau, nas atuais circunstâncias em que se confrontam com o Ocidente. A Federação Russa precisa de contrariar o isolamento internacional que lhe querem impôr e é nesse enquadramento que a Guiné-Bissau deverá estar a jogar.
Parece evidente que a Rússia tem interesse nas boas relações com a Guiné-Bissau. Para além das questões económicas, as questões políticas são relevantes, nomeadamente o afastamento da influência francesa na região do Sahel. A Guiné-Bissau é um pormenor, mas todos os pormenores são importantes, no que diz respeito à geopolítica africana.