Cães ou gatos, cumprimentam-se mutuamente cheirando o rabo uns dos outros. Os cães reconhecem-se pelo cheiro e sabor da urina, cumprimentam-se e discutem vocalizando conforme a mensagem que pretendem transmitir. Os humanos fazem mais ou menos as mesmas coisas, embora tenhamos perdido faculdades olfativas que outrora foram essenciais para transmitir ao cérebro informação sobre o outro.
Vem isto a propósito de um estudo realizado por biólogos austríacos da Universidade de Viena sobre comportamento social de elefantes.
A pesquisa foi realizada na Reserva Jafuta, no Zimbábue, e fornece uma nova visão sobre os gestos visuais, acústicos e táteis que os elefantes utilizam nas saudações, incluindo como as saudações diferem dependendo de fatores como o sexo dos interlocutores.
Os elefantes, os maiores animais terrestres da Terra, são muito inteligentes, com memória apurada e sofisticadas habilidades de resolução de problemas e comunicação.
Elefantes fêmeas de diferentes grupos familiares podem ter fortes laços sociais entre si, formando “grupos de vínculo”. Estudos anteriores na natureza relataram que, quando esses grupos se encontram, os elefantes se envolvem em elaboradas cerimônias de saudação para anunciar e fortalecer seu vínculo social, diz Vesta Eleuteri, a principal autora do estudo publicado este mês na revista Communications Biology.
Os elefantes machos têm laços sociais mais fracos, e suas saudações podem funcionar mais para facilitar possíveis “reuniões arriscadas” – uma interação hostil. Eles cumprimentam-se principalmente cheirando-se mutuamente, tocando-se com as trombas, escreve a bióloga.
O estudo detalhou cerca de 20 tipos de gestos exibidos durante as saudações, mostrando que os elefantes os combinam de maneiras específicas com tipos de chamada, como estrondos, rugidos e trombetas. Também revelou como o olfato desempenha um papel importante nas saudações, muitas vezes envolvendo micção, defecação e secreções de uma determinada glândula de elefante.
A glândula temporal, a meio caminho entre o olho e o ouvido, segrega uma substância chamada temporina contendo informações químicas sobre a identidade ou o estado emocional e sexual de um elefante. Os elefantes costumam usar suas trombas para verificar as glândulas temporais dos outros.
Muitas outras espécies cumprimentam, não apenas do grupo dos mamíferos. As saudações ajudam a mediar as interações sociais, por exemplo, reduzindo a tensão e evitando conflitos, reafirmando os laços sociais existentes e estabelecendo status de dominância usando diferentes comportamentos. Quem tem cães ou gatos, sabe isto perfeitamente.
Os elefantes também choram
Nunca matei um elefante, mas já comi a carne. No Congo (ex-Zaire), durante a guerra civil, muitas populações sobreviveram graças às proteínas da carne de animais selvagens e muitos elefantes foram mortos. Foi nessas circunstâncias que comi carne de elefante, várias vezes. Não havia outra coisa para comer.
Mas também me emocionei a vê-los em liberdade e segurança, como aconteceu no norte do Quénia, num sítio chamado Sweetwaters, perto de Nanyuki. Sweetwaters é uma reserva natural onde muitos biólogos de todo o Mundo vão realizar pesquisas científicas. Fui lá visitar um desses coca-bichinhos, Tom Butinsky, americano, especializado em pássaros que passava os dias de gravador na mão e binóculos nos olhos a espiar aves canoras.
Para chegar a casa dele, percorríamos vários quilómetros por uma planície de savana e, um dia, demos com uma pequena manada de elefantes que se deleitavam na lama de um charco. A manada tinha crias e foi emocionante sentir a fraternidade que existia entre os elementos do grupo. Habituados a serem espiados, os elefantes não se sentiram ameaçados pela nossa presença e pude fotografá-los à vontade embora não fosse prudente aproximar-me demasiado. As fotos que aqui vos mostro são a memória desse momento.
Os elefantes também choram, diz Barbara Gowdy no livro “O Osso Branco”, editado pela Quetzal. E eu juro que os ouvi rir. Quando achamos que somos primatas muito evoluídos, ignoramos as outras espécies.