Desta sorte, importará dizer que, excepcionalmente para o caso de uma inauguração, mesmo solene vernissage que seja, os visitantes foram convidados a sentarem-se, previamente, no Auditório Maria Barroso, para uma sessão inaugural.
Salvato Teles de Menezes, o presidente do Conselho de Administração da Fundação D. Luís I, de que institucionalmente a Casa das Histórias depende, quis, desde logo, mostrar, veementemente, como a Casa das Histórias afinal não estava vazia das obras da sua patrona. E a exposição que se ia inaugurar provava-o à saciedade.
Recorde-se que, por ocasião do falecimento da pintora, a 8 de junho de 2022, houve vozes que se levantaram a esgrimir razões: então, as obras ficam em Londres, na posse dos herdeiros e nada vem para Cascais, hein!; o Município assinara um cheque em branco e, agora, tinha as paredes e faltavam os quadros! A Fundação calou-se então, porque depressa se entendeu donde provinham os obuses e… chegou agora o momento de pôr fogo à peça! Não sem ironia, Salvato Teles de Menezes não se demorou em explicações, apenas garantindo que… os quadros que se iriam ver eram mesmo de Paula Rego!
Coube ao filho da artista, Nick Willing, manifestar-se de seguida, acerbamente, contra a m… do brexit, que pusera entraves e mais entraves à saída das obras de Inglaterra. Burocracias estúpidas. Mas estava contente por se ter logrado fazer chegar o barco a bom porto.
Finalmente, Carlos Carreiras, presidente da autarquia, congratulou-se e convidou-nos à visita.
Estão os quadros na Sala 0. Dezoito das dezanove obras exibidas na primeira exposição individual da artista, realizada em 1965, na Sociedade Nacional de Belas-Artes, em Lisboa, algumas delas localizadas recentemente a partir da investigação em curso. Escolheu-se o título Manifesto, que é o do quadro cujo nome completo seria «Manifesto por uma causa perdida», quadro que pertence ao acervo do Centro de Arte Moderna Gulbenkian. A «causa perdida» era a hipótese de mudar o estado a que tudo isto tinha chegado. Estava-se num período bem crítico da história portuguesa, Humberto Delgado fora assassinado a 13 de Fevereiro desse ano. Por isso, a «causa perdida» ficou no tinteiro e… a causa perdeu-se mesmo!
Valerá, pois, a pena entrar na página da Fundação D. Luís I (exposições – Manifesto) e ler o que aí se comenta, da lavra competente das duas curadoras da exposição Catarina Alfaro e Leonor de Oliveira.
Depois, vá serenamente ver os quadros. Não entenderá parte deles, aquelas colagens que a pintora deve ter posto aos poucos, à medida que mais uma ideia lhe surgia. E eram ideias às catadupas! Os críticos de arte saberão explicar bem tais surrealismos, os sonhos; nós, os que apenas reagimos à beleza do conjunto e atentamos neste ou naquele pormenor que nos impressionou, ficar-nos-emos, porventura por aí, na contemplação, na admiração por quem tanto logrou passar para as suas telas.
A exposição manter-se-á patente ao público até 6 de Outubro. E pode ser visitada diariamente, das 10 às 18 horas, excepto à segunda-feira, que encerra.