A Última Prisão

Está em cena, no Teatro Municipal Mirita Casimiro, no Monte Estoril, até ao próximo dia 21, a peça A Última Prisão, da autoria de Francisco Quintas, licenciado em Cinema pela Escola Superior de Teatro e Cinema, com especialização em Argumento. O texto foi premiado no recente concurso para jovens talentos levado a efeito pelo Teatro Experimental de Cascais.

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Nem é preciso sublinhar a oportunidade do tema, integrável nestas comemorações dos 50 anos da Revolução. De facto, Francisco Quintas imaginou os derradeiros dias de um preso em Caxias, na passagem do pesadelo para a liberdade. Ou seja, pôde ainda mostrar os métodos de tortura física e psicológica usados pela polícia política para arrancar delações.

Diz-se que Israel quer liquidar todos os membros do grupo terrorista Hamas; a intenção da PIDE era idêntica: aniquilar todos os filiados no Partido Comunista, considerados figadais inimigos do regime. Por isso, torturando os que lograva prender lograria vir a caçar toda a rede.

Adriano fora da Polícia Judiciária e pudera aperceber-se, em África, da falta de sentido da guerra que aí se travava; alistou-se, pois, no Partido, a fim de melhor sangrar a situação. Foi denunciado, preso. E o que se vê, num cenário tétrico, despido, de portas que abrem e fecham, algumas com grande estrondo, são os longos minutos desses dias, em que ainda se não vislumbrava qualquer saída plausível.

Louve-se a sobriedade do ambiente. Nem de mais nem de menos. E o canto, quase despercebido, do lado esquerdo, serve, logo de início, para mostrar a entrada bruta da polícia em rusga na casa do preso e, mais adiante, assim perto do público, para mostrar – e quase sentir – os murros, os pontapés, o sangue a escorrer pela parede, brutalidade…

Merecerá que o espectáculo venha a ter uma digressão ou seja reposto daqui a algum tempo, porque 12 dias são escassos para mostrar algo que importa não esquecer e que tem aqui uma realização de muito louvar. Na verdade, João Vicente, o protagonista sempre em cena, terá aqui uma das suas actuações mais eloquentes, forte candidato a ser premiado ele também. Está, aliás, muito bem secundado por dois dos actores da companhia, Teresa Corte-Real e Luiz Rizo. João Craveiro mantém – como o conhecemos doutras actuações – aquele ar severo, impenetrável, sarcástico, hierático (dir-se-ia), como convém a um guarda prisional astuto.  Mas, importa dizê-lo, todos os outros actores completam, às maravilhas, um naipe de excelência: Afonso Jerónimo, André Magalhães, Baltasar Marçal, Joana Castro (no delicado e difícil papel de mulher do preso), João Craveiro e Vasco Maranha.

De excelência – para além do ambiente criado, que nunca será de mais sublinhar – é o próprio texto, que, apesar do conteúdo fortemente dramático, não deixa de ter suaves momentos de quase poesia (sentimos).

A encenação e dramaturgia é de Rodrigo Aleixo (uma grande promessa no teatro português); a cenografia e figurinos, como habitualmente, de Fernando Alvarez.

Uma das peças, sublinhe-se, de que se sai de cravo na mão; não no sentido físico (que também poderia ser), mas em sentido figurado: um sopro de libertação!

Uma palava ainda para a ampla (54 páginas!) documentação disponibilizada. Para além dos dados sobre o espectáculo e a biografia dos intervenientes, extenso, oportuno e adequado rol de textos, nomeadamente recortes e imagens sobre a situação nas prisões do Estado Novo. Parabéns!

Acrescente-se que a sessão do dia 18 terá intérprete de Língua Gestual Portuguesa e, após a do dia 19, haverá possibilidade de troca de impressões com o público.

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