MUITAS E DESVAIRADAS GENTES

Por mais vezes que se vá a Londres, sempre haverá aspetos que particularmente nos chamam a atenção por serem diferentes do que nos sucede no quotidiano.

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Surpreenderá, por exemplo, o uso do telemóvel a todo o momento, porque nele foram activadas uma série de funções. Identificas-te à entrada do supermercado, apontando o telemóvel a um código QR. Lês com o telemóvel o  código de cada produto que compras; no final, sem subterfúgios, dás a ler a uma máquina o rol das compras feitas e pagas com o próprio telemóvel, ligado que está à tua conta bancária.

Nas deslocações, é com o telemóvel que pagas o bilhete dos transportes públicos, tanto autocarro como comboios e metros, táxis oficiais e táxis de empresas privadas. Raramente, aliás, recorres ao teu automóvel, até porque se paga taxa para entrar de carro particular no centro histórico urbano. O telemóvel – devidamente apetrechado com as correspondentes aplicações — fornece, de resto, pronta informação acerca do meio de transporte mais rápido, com as respectivas conexões, para se chegar de um sítio a outro: autocarro daqui a 3 minutos, para apanhares o metro na estação X e mudares de plataforma na estação Y. Impressiona, de facto, queira-se ou não, o número e a frequência de comboios urbanos, de que alguns chegam a ter 12 carruagens!… E, se olharmos para o céu, raro será o momento em que não topemos dois, três, quatro aviões a prepararem-se para aterrar num dos seis aeroportos da cidade ou acabando de levantar voo de um deles. Se tivermos no telemóvel a aplicação adequada, até poderemos saber logo donde veio ou para onde vai, de que companhia é e se está a horas ou vem com atraso. Maravilha! Ao chegares à porta de casa, se querias chegar sorrateiro, tira daí o pensamento: a Alexa, a tua empregada electrónica que tudo sabe como o Google, logo avisa que “há movimentações junto da tua porta!”. Ora toma!

As gentes

Estamos a habituar-nos a viver num mundo cosmopolita. Era, naturalmente, a Roma antiga o centro de atracção de gentes de mui variadas etnias. Admirou-se Fernão Lopes, ao ver que ao porto de Lisboa, nesses longínquos finais do século XIV, acorriam “muitas e desvairadas gentes”. Sufoca-nos hoje a nossa Lisboa, onde só de quando em quando se ouve falar português.

Em Londres, não. Ia jurar que ferozmente se impusera a língua local! E se, noutras cidades, os letreiros são bilingues, em Londres a pobreza linguística é total: tudo em inglês e só em inglês! Em contrapartida, no entanto, o multiculturalismo revela-se no imenso e bem variegado colorido do trajar. No exíguo espaço do trecho de uma carruagem entre duas portas de saída, podes ter jeans, saris, burkas, ousadíssimas minissaias, o vestido de ver-a-Deus e as calças propositadamente rasgadas nos joelhos ou mesmo um tudo nada mais acima para mostrar, na coxa, irreverente tatuagem, numa sedução. Tudo absolutamente natural!

Adrega-se, uma vez por outra, deparar, como foi agora o caso, com trajar mais extravagante, a condizer com adequada série de piercings a exigir indiscreta fotografia. Acho que a jovem não se deve ter importado da indiscrição. Não suspeitará, contudo, que terá a “honra” de agora ilustrar esta crónica. Na língua de Camões!

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