Manuel Antunes de Almeida, o Lenine de Falgoselhe.

Lenine, por causa da barba, da oratória, da expressão corporal.

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Nasceu nos anos difíceis da guerra, em 29 de Outubro de 1941, numa família de seis irmãos, numa aldeia serrana do Caramulo, Falgoselhe.

A sua frágil condição de saúde, os problemas pulmonares, ironia do destino, permitiram-lhe fugir ao fado, e continuar a estudar até à conclusão da licenciatura em Direito na Universidade de Coimbra, em 1968.

O seu percurso é paralelo e inseparável da sua companheira  e cúmplice, Maria dos Anjos, que conheceu aos 18 anos,  num verão  de Agosto, na Costa Nova.

O Necas e a Mimi acabaram por casar em 1968, com pompa e circunstância… Uma relação afetiva profunda, longa, com todas as vicissitudes do amor. Com identificação, compromisso, entrega, cumplicidade e adversidades próprias do percurso. 

Iniciou a atividade profissional, e a sua família, no Fundão, onde residiu  de 1968 a 1974, e onde nasceram as suas 2 filhas, Manela e Sofia (1969 e 1971). Que viriam a ser os seus amores maiores. Os seus amores incondicionais. De quem nunca “abriu mão”.

Regressou a Águeda,  em família, em Setembro de 1974.

Participou na vida política e cultural da vila, depois cidade, como professor, advogado, Presidente da Câmara e  membro de  vários órgãos sociais de diferentes colectividades. Escreveu artigos de opinião no Jornal da terra, com a sua habitual acutilância.

Em sua casa funcionava um verdadeiro Bloco Central, ele PPD, ela PS com debates acessos, cujas principais beneficiárias, as suas filhas, ainda hoje guardam ternamente na memória.

Defensor da inclusão, da tolerância, do debate de ideias (mesmo, e sobretudo quando diferentes), da importância de ceder e encontrar consensos.

Tive o privilégio de ser seu aluno, de experimentar pela primeira vez aulas ao ar livre, de discussão aberta, Sócrates e os seus discípulos, um atrevimento intelectual à época. Mais tarde, já na Universidade, só o Moisés Espírito Santo provocou  sobressaltos semelhantes. O convite à contestação e desconstrução da doxa, a escola judaica de pensamento, o livre arbítrio.

Uma cultura imensa, um saber raro, daqueles que eu conheço, só presente num Deniz Ramos ou num Paulo Sucena. Um tribuno por excelência com quem estive sempre ao lado enquanto militante do PPD, pelas mesmas causas e projectos.

Governou a Câmara num período difícil mas feliz para os aguedenses porque a personalidade íntegra, justa, responsável e trabalhadora permitiram ultrapassar as dificuldades.

Intelectualmente honesto e possuía aquela rara qualidade de se colocar no lugar do outro, gostava do contraditório, admirava aqueles de quem discordava. Leitor compulsivo, rodeado de livros, sobretudo pelos clássicos e de jornais.

Desassossegado, insatisfeito, sempre na procura de respostas para a sua inquietação, mais tarde na vida o próprio sentido da vida, a religião, o mistério da vida e da morte.

Era provocador, desafiador. Gostava de colocar tudo em causa, em xeque; da discussão é que surgia a luz. Brincalhão, bon-vivant, de uma alegria contagiante. Adorava a sala de professores, de lançar charme, das patuscadas com os amigos.

Impulsivo, facilmente irascível e irritável, sobretudo a meio da sua vida (50 anos), após ser confrontado com as sequelas da saúde frágil, que agravou com os anos de tabagismo intensivo, fruto de uma vida vivida intensamente…

Caricatura de Manuel Antunes de Almeida, publicada em Soberania do Povo, edição de 1 de fevereiro de 2007

Acompanhava com gosto, e enorme felicidade, a vida dos 4 netos (4 rapazes). Um grande orgulho. Sobretudo depois de passar grande parte da vida a queixar-se da dificuldade que era viver entre mulheres!! Esteve mais presente no crescimento dos 2 filhos da Sofia, tendo o privilégio de os ajudar também a criar e a educar.

Se hoje estivesse presente entre nós seria o avô mais orgulhoso e feliz do mundo. As conversas extraordinárias que teria com os 4 netos, agora jovens adultos (19, 21, 23 e 25 anos).

Gostava de plantar árvores de fruto, cuidar e ver as plantas crescer, tal como gostava de ensinar, transmitir conhecimento e contribuir para a construção de um  futuro melhor, de justiça social para todas as gerações.

Foi um Humanista, um defensor do pluralismo, um integrador e agregador. A social-democracia em bruto, no seu estado mais puro. Via a sociedade como um espaço de acolhimento.

Deixou-nos em 27 de Julho de 2010.

O autor escreve segundo o antigo Acordo Ortográfico.

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