Formado em Economia, recordava amiúde ter servido, na tropa, nos serviços jurídicos, pelo que muito prezava o rigor em tudo o que fazia e estudava.
Depois de uma vida como funcionário de companhias aéreas, dedicou-se acaloradamente à Arqueologia, especializando-se em cerâmica romana, designadamente tardia, de que se tornou um bom conhecedor. Esmerou-se no desenho arqueológico, e ficamos-lhe a dever muitos estudos sobre os mais diversos espólios, nomeadamente de Alcácer de Sal, por exemplo, em que colaborou com o saudoso João Carlos Lázaro Faria e, depois, com Marisol Ferreira. Preciosa a sua colaboração nas escavações levadas a efeito nos fornos romanos de Sesimbra e na villa romana de Freiria e na villa de Quinta das Longas (Elvas) .
O testemunho do Doutor Guilherme Cardoso
Escreveu G. Cardoso, presidente da Direcção da Associação Cultural de Cascais:
É com grande pesar que dou a triste notícia do falecimento de um grande amigo, o Eurico Sepúlveda.
Conhecemo-nos nos princípios dos anos 90, há 34 anos, e a partir daí desenvolvemos uma grande amizade, tendo realizado vários estudos e escavações arqueológicas, sendo o principal os da olaria romana do Morraçal da Ajuda, Peniche, onde ensinou dezenas de jovens universitários, o melhor método de escavar e o desenho de peças arqueológicas.
Economista de profissão, arqueólogo amador de coração, soube como poucos desenvolver os estudos de materiais de época romana em Portugal, com especial dedicação à “terra sigillata”, paredes finas e vidros.
Trabalhou em diversas escavações nas villae romanas de Cascais: Freiria, Caparide, Miroiços de Manique, Vilares e necrópole tardia de Alcoitão.
O testemunho da coordenadora do Teatro Romano de Lisboa
O que dizer de um amigo que parte?
O que dizer de um homem bom que nos ficará para sempre na memória e no coração?
Não conseguindo e não querendo responder a estas duas perguntas gostaria, em nome do Museu de Lisboa – Teatro Romano, agradecer profundamente a investigação desenvolvida por Eurico de Sepúlveda nesta instituição (para mim será sempre o Pocinho, nome pelo qual o tratava pois brincando lhe dizia sempre que era um “pocinho de virtudes”).
Conheci-o há muito, muito tempo, mas foi em especial a partir de 2005 que retomámos o contacto e que o empenho e ajuda de Eurico mais se manifestou no estudo das coleções do teatro romano. A tradução para inglês do guia do museu é da sua autoria e de Maria Empis, assim como múltiplas outras traduções de artigos que apresentámos juntos, em especial referentes à terra sigillata itálica. Pelas suas mãos passaram milhares de fragmentos de lucernas, paredes finas e de sigillata itálica e sudgálica. Tudo desenhado e redesenhado com rigor, todos os desenhos feitos à mão com anotações sem fim de paralelos que descobria ou interrogações que lhe assomavam por entre as classificações que atribuía. Um barrete frígio de uma cena de symposium tirou-lhe o sono durante muito, muito tempo, assim como a busca de paralelos de uma garrafa Lagéne atualmente em exposição no museu. Também o espólio do circo romano de Lisboa, da sigillata da Rua dos Bacalhoeiros, assim como do Largo de Stº António e da Rua de Augusto Rosa lhe passaram pelas mãos, nervosas, que lhe tremiam quando não desenhava.
O que recordarei sempre, para além de tudo, será o seu humor, mordaz e crítico, mas igualmente benevolente e apaziguador e os seus olhos azuis, vivos e sorridentes que contagiavam com a sua alegria e voluntarismo.
Lídia Fernandes
Coordenadora do Museu de Lisboa – Teatro Romano
O corpo do nosso mui prezado Amigo estará em câmara ardente a partir das 17 horas de hoje, segunda-feira, 8, na igreja de S. Romão, em Carnaxide. A cremação está prevista para as 15.30 h. de amanhã, terça-feira, 9, no Centro Funerário de Alcabideche, em Cascais.
Que descanse em paz. A seus filhos, Nuno e Teresa, a seus netos e demais família apresentamos mui sentidos pêsames.
Junto os meus pêsames aos dos Amigos do Dr. Eurico Sepúlveda, que vi de perto em várias ocasiões, mas com quem não tive o prazer de privar.
De facto, pelo que fica exposto neste texto que é um símbolo de respeito, foi uma vida rica em experiências pessoais e profissionais, mas por fim, também ele se sentiu atraído pelo encanto da Arqueologia.
Digo também, porque houve uma altura em que ponderei colaborar, como voluntária que nada sabia, tudo teria de aprender, nos trabalhos das villae romanas de Cascais, sobretudo Freiria.
Nunca sei o que dizer sobre a morte (ou a vida para além dela) só sobre o exemplo que ficou. É ele que pode enriquecer a memória que dele farão os descendentes e todos quantos o conheceram. E isso sim, é vida, faz parte dela.
Que essas memórias perdurem, para não se perder o traço dos bons exemplos como o do Dr. Eurico Sepúlveda.
Bem hajas, Helena! Eurico deu fundamentalmente um grande exemplo de dedicação, porque estudou incansavelmente e, sobretudo, porque teve sempre a preocupação maior de ensinar os mais novos. Tinha uma paciência exemplar!
Por isso foram muitos os seus alunos que vieram prestar-lhe a última homenagem.
Nada há para agradecer, meu Amigo. Não gosto de homenagens póstumas, se os estímulos e a alegria merecidos não tiverem sido dados primeiro em vida.
Mas por aquilo que o teu texto deixa transparecer, acredito que no caso do Dr. Eurico Sepúlveda os Amigos nunca lhe tenham negado essa admiração.
Um grande abraço.