PORTUENSES POUCO, OU NADA, CONTAM

A Fnac vai fechar a loja na baixa do Porto no fim de Setembro. O  senhorio manifestou intenção de não renovar contrato do edifício na Rua de Santa Catarina, de onde também sai a C&A. Loja Urban Project, no prédio contíguo. Só fica a faltar mesmo encerrar o… Porto.

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A Fnac está localizada no edifício Palladium, que nos anos 40 a 70 acolheu o Café Palladium. Na Câmara Municipal do Porto o edifício conta com o rótulo de “valor patrimonial”. Tem uma área superior a 5.100 metros quadrados e um valor bem superior a 20 milhões de euros.

Que as pessoas do Porto e o comércio tradicional estavam em segundo plano perante a especulação imobiliária e o turismo, já se sabia. Mas, aparentemente, agora já nem multinacionais como a Fnac sobrevivem, o que clarifica o plano – cada vez mais difícil de negar – de quem toma decisões sobre a construção e os usos da cidade no sentido de tornar o Porto uma área monofuncional.

Parece haver espaço para habitação de elevado custo (para nómadas digitais ou investidores estrangeiros), alojamentos locais, hotéis de luxo (o turista de hostel interessa cada vez menos) e para comércio indiferenciado que permita ao Porto dizer-se uma grande cidade europeia.

Este título depende, claro, da presença de um leque muito específico de lojas e marcas (as mesmas que encontramos em Paris ou Barcelona).

Não sobra, assim, muito espaço para quem quer continuar a fazer vida no Porto – ou para jardins, já agora.

E se a saída de uma loja como a Fnac não tem o mesmo peso histórico, emocional e identitário que provocou a situação análoga com, exemplo entre muitos, a Confeitaria Serrana da Rua do Loureiro, não deixa de ser um sinal assustador: se já nem ser uma multinacional é suficiente para ter lugar neste Porto, que futuro podem esperar os e as portuenses desta cidade que outrora foi a sua?

Após 45 anos, a Serrana fechou as portas dia 21/01/2022

Uma em cada quatro lojas da cidade do Porto fechou as portas, nos últimos dez anos. Em 2018, o Observatório do Comércio, da Associação de Comerciantes do Porto, registava que o número de lojas comerciais estava em queda livre “por falta de renovação da população da cidade”.

Para os responsáveis políticos da cidade, e até da própria Área Metropolitana, se ao Porto se retirar o problema de ter cada vez menos portuenses, menos identidade, menos história viva, menos português como língua de uso diário, está tudo bem. Aliás, o próprio Presidente da Câmara Municipal, Rui Moreia, dá-se por satisfeito por o Porto ter uma boa “percepção externa” (seja lá o que isso for).

Se algum português chegar ao Porto e perguntar a dez transeuntes “onde fica a Rua de Santa Catariana”, a resposta de nove deles será: “Sorry, I dont´t speak portuguese” ou   “Lo siento, no hablo portugués”.

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